segunda-feira, 28 de agosto de 2023
O Tubarão (Humor)
Florinda Rosa Isabel
14 de fev. de 2023, 13:34
para mim
Caminhava eu pela margem de um belo rio, absorta em meus pensamentos, quando me apercebi de que pronunciavam o meu nome.
Voltei-me, e um vulto, a emergir das águas, sussurrou: «Vem cá, ó coisa humana».
Amedrontada, deixei-me cair lentamente na areia e ali fiquei, a aguardar o meu fim, que adivinhava próximo. Mas o incrível aconteceu:
Um corpulento crocodilo rastejou até mim e disse: «Não tenhas medo, não te faço mal. Vocês atacam todo o ser inferior a vós. Nós, raramente atacamos sem ser para nos alimentarmos ou em legítima defesa».
Um frémito de terror sacudiu meu corpo. Ele continuou: «Tranquiliza-te, não tenho fome...já comi um papagaio desobediente. De cada vez que o pai lhe dava um conselho, perguntava porquê, e veio logo direitinho à minha boca...Mas vamos ao que importa! Tu sabes que eu nem sempre fui crocodilo?»
Fiquei estupefacta: «Dar-se-ia o caso de eu estar na presença de um meu antepassado?» Ele prosseguiu: «Já fui elefante, mas sofri tanto, que pedi ao Criador para me transformar noutra raça. Quando Ele me viu sem presas, apiedou-se de mim e disse:_ Pobrezinho, do que a raça humana é capaz! Até sinto vergonha quando alguns me chamam Pai...Julgam-se proprietários dos restantes seres que coabitam com eles debaixo do mesmo céu... As presas fazem-te falta, eles podem viver sem troféus exóticos...Acaso gostariam que lhes arrancassem os dentes e os exibissem em cima de qualquer móvel?_ Após dizer isto, transformou-se num touro. a seu pedido»
A refazer-me do susto, titubeei: «Também não acertaste na escolha?
Ele concordou: «Infelizmente, paguei a minha vaidade taurina...Ouvia falar na arte do toureio, a essas "coisas humanas" que por aí andavam a fazer motonáutica e a poluírem o rio. Também diziam que um touro se enchia de orgulho...Bem! Um touro com sentimentos, orgulhoso... Já me via reproduzido numa tela, servindo de modelo a um pintor.Mal eu sabia que chamavam arte a uma barbaridade aquelas, humanos a cavalo, a espetarem-me ferro. E todos a baterem palmas, sem pena de mim, a escorrer sangue!
Pobrezinho, disse eu, comovida. E perguntei:«Afinal, por que me chamaste?»
Desgostoso, respondeu: «Estou viúvo, mataram a minha pobre companheira. Quis desabafar com alguém. Sinto que amas os animais.
Subitamente, viu o meu saco e desatou a soluçar: «Dá cá isso, malvada! E eu a pensar que eras diferente! Este saco foi feito dos restos mortais da minha infeliz companheira!».
Escancarou a boca e engoliu-me! Gritei, rebolei dentro dele, tentava fugir daquelas entranhas molhadas. Acordei.
Afinal tudo não passou de um sonho, e eu não senti as entranhas do "touro" molhadas dentro do "Crocodilo" .. Tinha acordado,com o susto e fiz na cama...😆
Florinda Rosa Isabel
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