terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
A ARTE DE MORRER
A todos, a nossa saudação.
Caros Amigos,
Após a leitura da última crónica de Maria Ferreira da Silva, autora de toda a nossa colecção "Missão Lusa", e com sua permissão, divulgamos hoje esta crónica em vez do texto que aleatoriamente seleccionamos às terças-feiras.
«A ARTE DE MORRER
Ninguém quer morrer! Se há um temor humano colectivo, esse é sem dúvida o da morte. Nunca alguém se sente preparado para morrer, para deixar o seu corpo físico. Não obstante haver aqueles que têm a veleidade de cometer suicídio, não são, porém, exemplo a seguir, porque são na realidade tão fracos psiquicamente, que até da vida têm medo. Também, relativo à eutanásia ela é praticada pelos vencidos.
Neste contexto actual de pandemia fica denunciada e desmascarada a hipocrisia de tantos que aprovam a despenalização da prática da eutanásia, quando nos hospitais se luta pela vida dos doentes, onde os profissionais da saúde têm o dever ético de salvar vidas. A eutanásia é de extrema violência, acto criminoso para quem a comete ou ajuda a cometer. Consagrada a Vida, pela própria vida, ela é inviolável!
O processo evolutivo humano no caminho do aperfeiçoamento implica o desenvolvimento de virtudes, mas essencialmente transmutar os defeitos. Estes manifestam-se conforme o grau de violência interna, muitas vezes disfarçada que nem o próprio é capaz de definir certos sentimentos e emoções que levam a actos menos dignos. Hoje, a educação familiar, escolar e social condena cada vez a violência e, portanto, ao abrigo da opinião dos outros essa violência fica escondida, reprimida e, disfarçadamente, acaba por manifestar de alguma forma e conforme o poder de agir de cada um, pode ser traduzido por: manipulações mentais, regras e leis.
É o caso de muitas pessoas com cargos poderosos que têm possibilidade de decidir pelos outros, usando abusivamente de uma autonomia, disfarçando a sua violência interna, na aprovação de leis. Um dos acérrimos defensor da eutanásia é, então um Procurador, cujos argumentos, naturalmente por submissão ao cargo que ocupa, leva alguns a segui-lo cegamente. Outros, que também comandam estas directrizes com a capa da justiça e do bem, tais guardiões da esquerda política deste País, como educadores dos bons costumes, do politicamente correcto, moralistas disfarçados fazendo coro com outras ideologias progressistas - como donos da democracia - para preencherem o vazio do ateísmo que professam. Aqueles que minimamente são crentes, não subscrevem a prática da eutanásia. Infelizmente há muitos seres “cheios” de vazio interior.
O poder de um lugar ou posição política é muito perigoso, exactamente, pela falta de evolução espiritual, onde os quereres de uma mentalidade medíocre podem comandar a vida de milhares ou mesmo milhões, neste caso, de portugueses ao mando de pessoas notoriamente violentas nos seus interiores, prejudicando tudo e todos. Infelizmente esta é a apatia também da maioria da humanidade que segue conceitos e ideais colectivos, sem pensamento próprio e elevado para combater ou contrariar tamanha desfaçatez de quem tem poder de decidir pelos demais. Por todo este poder, a liberdade individual está em jogo. Porém, se o poder fosse usado com equanimidade nunca a liberdade individual ficaria em perigo. Por si só, o estado de emergência é de grande violência para a liberdade.
Sim, e ainda temos o mais alto cargo da Nação, o Presidente da República que tem demonstrado até aqui conveniência e convivência, sem coragem para contrariar, principalmente os casos da eutanásia e do Acordo Ortográfico, ficando este, até agora, na gaveta.
Mesmo esta pandemia, em que infelizmente todos pagamos o confinamento, se deve à falta de estruturas dos meios sanitários, mesmo na restante Europa, em que as verbas para sustentar a saúde pública são sempre escassas, conforme o demostrou o nosso último Orçamente de Estado, espremido até ao cêntimo para mostrar que a economia tinha crescido. A seguir, o descalabro da pandemia desmoronou todo o esquema matemático, primorosamente abrilhantado pelo ministro das Finanças.
A falta de meios para combater uma gripe mais forte, que é isso mesmo, o Covid-19, naturalmente atinge as pessoas mais vulneráveis, caso dos mais idosos tornando-se mais mortal. Vivemos, de momento num mundo caótico, desconectado, onde o principal não é salvar vidas, mas salvar os lucros que estão por detrás daquilo que dá vantagem económica, que são as manufaturas referentes a todos o material sanitário; máscaras, vestuários médico e de enfermagem, equipamentos hospitalares, e as salvadoras vacinas.
O real poder financeiro e social a partir de agora estará nas farmacêuticas e laboratórios científicos e seus “beneméritos” mecenas, que vão lucrar com o esvaziamento dos cofres de qualquer país, devido à pandemia, impondo desta forma, mais restrições económicas à massa humana.
E, pois, agora, de novo o confinamento, não obstante a vida ser movimento; parar é ressecar, é estagnar.
Na Bhagavad-Gītā, Khrisna assumindo a sua divindade, diz a Arjuna:
«E se me conservar inativo, será a ruína de todos os povos e a causa do caos e destruição de todas as criaturas».
Assim, a corrente da vida só pára com a morte natural de cada um. A arte de morrer assenta na confiança de uma vida plenamente concretizada no dia-a-dia frente às circunstâncias, quer boas, quer mais desafiantes que nos temperam no aperfeiçoamento do carácter, muitas vezes à custa de sofrimento, mas do qual se sai mais forte com a certeza de um dever cumprido. Com este ânimo, o temor da morte transforma-se num bálsamo de um descanso merecido na vida para além dela.»
Maria Ferreira da Silva
09 de Fevereiro, 2021
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