segunda-feira, 15 de abril de 2019

CARTA DE DESPEDIDA DE MÃE AMARGURADA

20 de Outubro de 2017
CARTA DE DESPEDIDA DE MÃE AMARGURADA
Meu filhos, esta é uma carta de despedida da vossa velha Mãe Terra, pois estou muito doente, sinto que o meu fim se aproxima, vocês terão de partir para casa dos vossos Tios, outros Planetas meus Irmãos...
Não me dirijo a vós tratando-os por queridos filhos, porque não o merecem!
Sentido-me muito fraca e a perder as forças, pedi análises no Laboratório da Natureza, acabei de receber o resultado, estão uma lástima...
Tal como vós, eu sou um ser vivo, que respira, come e bebe...
Eu devia comer raios solares dourados e beber a doce água da chuva e dos rios; mas o vosso egoísmo modificou tudo, até o Sol! Ele já não brilha como outrora...
Vós furastes-me e sugastes-me o meu minério praticamente todo. A vossa ganância, ávidos pelo meu ouro, para negociarem com essa minha seiva, algum para vos adornardes com ele, para as vossas vaidades fúteis, algum para esconderdes, mas para mim era essencial para a minha sobrevivência...
Se vos furassem e retirassem aquilo que vos mantém vivos, como era? Iam-se aguentando durante uns tempos, enquanto a inteligência do vosso corpo fosse extraindo o pouco que ainda conseguisse das vossas reservas guardadas. Depois, vocês definhariam e morriam!
O vosso consumismo retirou grande parte do meu petróleo...
A vossa insensibilidade retirou-me a pouca alegria que as minhas crianças ainda conseguiam dar, mataste-las, comeste-las, sem necessidade de o terdes feito... Refiro-me aos vossos irmãos menores, os animaizinhos, meus pobres filhotes mais novos e brincalhões, que alegravam um pouco a minha amargurada existência...
Tudo por gulodice, tudo... Gostavas de comer, até, os corações deles como petisco, enquanto bebias vinho! Fizeste-vos uns alcólatras!...
Como se já não bastasse os infelizes que criavam, até acarinhando-os e pegando-lhes ao colo, como, por exemplo, os meigos coelhos, sem um mínimo de compaixão pregavam-lhes cacetadas detrás das orelhas até eles deixarem de gemer e já não se mexerem.
Isto, nas criações familiares, porque na grande indústria da MORTE, nem quero falar, não posso, preciso reunir as poucas forças que ainda me restam para terminar esta carta de despedida, não posso torturar-me mais com a visão de vacas e porcos pendurados pelas pernas, a estrebucharem, com as gargantas cortadas e o sangue a salpicar os seus algozes...
A vós divertia ver torturar os pobres touros, onde alguns cavalos também perdiam a vida...
E não vos bastava o que faziam no vosso habitat, ainda entravam no habitat de outras espécies, para as assassinar e roubar partes o seus corpos, para enfeitarem as vossas casas, sem compaixão pelas pobres crias órfãs que ficavam a chorar encostadas aos cadáveres de suas mães...
E capturaram animais exóticos, para os trazerem e ganharem dinheiro com eles, obrigando-os a aprender habilidades à força do chicote... Outros, iriam ficar fechados numa prisão a que vós chamais Jardim Zoológico, que de jardim só tem a parte que os negociantes exploram no comes-e-bebes...
Bem... estou já sem forças... Quando fui fazer minha análises, fiquei apavorada... A analista tentou levantar-me uma camada de pele, mas só encontrou o vosso lixo, que vós colocastes onde retirastes o minério que me sustentava! Não tinha nada de minério, não tinha petróleo, nada!
Fizeste-vos uns preguiçosos! Não vos querendo baixar para mondar vossas plantações à mão, começastes a a utilizar a monda química, que entra pelos poros da minha pele, pois a camada de terra da minha superfície é a minha pele, não sabíeis? E, simultaneamente, ias fazendo desaparecer a imensa quantidade de pequenas criaturinhas que ajudavam a proteger as vossas plantações. Depois, como não era uma forma natural, essa prática foi perdendo eficácia; mas vós resolvestes o problema, aumentando ainda mais a toxidade desses químicos.... E as minhas pobres abelhas, aqueles pequenos seres, as operárias da oficina do Pólen, começaram a desaparecer...
Sim, fizestes-vos preguiçosos, já não quereis fazer nada manual, precisais de consumir muita electricidade e, para isso, interferístes com o livre-arbítrio de outros seres vivos, os rios, que escolheram por onde descer quando nasceram... Cortastes seu percurso com altos muros, para aprisionares o precioso líquido que os rios transportam, a puríssima água. Depois, inventástes parques de campismo à sua volta, mais umas praias fluviais, mais umas motas de água a poluírem junto convosco...
Estremeci, quando vi que do meu corpo só saía o sangue das matanças que vós fizestes, pois além de vos matardes uns aos os outros, ainda matastes os meus meninos, meus bebezinhos_ os infelizes animais, que vós entedestes que estavam cá só para vos servir e satisfazer a vossa gula!
Sim, estremeci, meus espasmos transformaram-se em terramotos! Fiquei zangada, meu furor transformou-se em chamas! Esbracejei! E desse erguer de braços ao céu desencadeei vários ciclones e tufões.
Preparem as vossas coisas, pois em breve terão de ir morar com os vossos Tios, noutros Planetas meus Irmãos, porque eu estou moribunda...
Assina:
PLANETA TERRA_A VOSSA MÃE.
Florinda Rosa Isabel

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