20 de Outubro de 2017
CARTA DE DESPEDIDA DE MÃE AMARGURADA
Meu filhos, esta é uma carta de despedida da vossa velha Mãe Terra,
pois estou muito doente, sinto que o meu fim se aproxima, vocês terão de
partir para casa dos vossos Tios, outros Planetas meus Irmãos...
Não me dirijo a vós tratando-os por queridos filhos, porque não o merecem!
Sentido-me muito fraca e a perder as forças, pedi análises no
Laboratório da Natureza, acabei de receber o resultado, estão uma
lástima...
Tal como vós, eu sou um ser vivo, que respira, come e bebe...
Eu devia comer raios solares dourados e beber a doce água da chuva e
dos rios; mas o vosso egoísmo modificou tudo, até o Sol! Ele já não
brilha como outrora...
Vós furastes-me e sugastes-me o meu
minério praticamente todo. A vossa ganância, ávidos pelo meu ouro, para
negociarem com essa minha seiva, algum para vos adornardes com ele, para
as vossas vaidades fúteis, algum para esconderdes, mas para mim era
essencial para a minha sobrevivência...
Se vos furassem e
retirassem aquilo que vos mantém vivos, como era? Iam-se aguentando
durante uns tempos, enquanto a inteligência do vosso corpo fosse
extraindo o pouco que ainda conseguisse das vossas reservas guardadas.
Depois, vocês definhariam e morriam!
O vosso consumismo retirou grande parte do meu petróleo...
A vossa insensibilidade retirou-me a pouca alegria que as minhas
crianças ainda conseguiam dar, mataste-las, comeste-las, sem necessidade
de o terdes feito... Refiro-me aos vossos irmãos menores, os
animaizinhos, meus pobres filhotes mais novos e brincalhões, que
alegravam um pouco a minha amargurada existência...
Tudo por
gulodice, tudo... Gostavas de comer, até, os corações deles como
petisco, enquanto bebias vinho! Fizeste-vos uns alcólatras!...
Como se já não bastasse os infelizes que criavam, até acarinhando-os e
pegando-lhes ao colo, como, por exemplo, os meigos coelhos, sem um
mínimo de compaixão pregavam-lhes cacetadas detrás das orelhas até eles
deixarem de gemer e já não se mexerem.
Isto, nas criações
familiares, porque na grande indústria da MORTE, nem quero falar, não
posso, preciso reunir as poucas forças que ainda me restam para terminar
esta carta de despedida, não posso torturar-me mais com a visão de
vacas e porcos pendurados pelas pernas, a estrebucharem, com as
gargantas cortadas e o sangue a salpicar os seus algozes...
A vós divertia ver torturar os pobres touros, onde alguns cavalos também perdiam a vida...
E não vos bastava o que faziam no vosso habitat, ainda entravam no
habitat de outras espécies, para as assassinar e roubar partes o seus
corpos, para enfeitarem as vossas casas, sem compaixão pelas pobres
crias órfãs que ficavam a chorar encostadas aos cadáveres de suas
mães...
E capturaram animais exóticos, para os trazerem e
ganharem dinheiro com eles, obrigando-os a aprender habilidades à força
do chicote... Outros, iriam ficar fechados numa prisão a que vós chamais
Jardim Zoológico, que de jardim só tem a parte que os negociantes
exploram no comes-e-bebes...
Bem... estou já sem forças... Quando
fui fazer minha análises, fiquei apavorada... A analista tentou
levantar-me uma camada de pele, mas só encontrou o vosso lixo, que vós
colocastes onde retirastes o minério que me sustentava! Não tinha nada
de minério, não tinha petróleo, nada!
Fizeste-vos uns
preguiçosos! Não vos querendo baixar para mondar vossas plantações à
mão, começastes a a utilizar a monda química, que entra pelos poros da
minha pele, pois a camada de terra da minha superfície é a minha pele,
não sabíeis? E, simultaneamente, ias fazendo desaparecer a imensa
quantidade de pequenas criaturinhas que ajudavam a proteger as vossas
plantações. Depois, como não era uma forma natural, essa prática foi
perdendo eficácia; mas vós resolvestes o problema, aumentando ainda mais
a toxidade desses químicos.... E as minhas pobres abelhas, aqueles
pequenos seres, as operárias da oficina do Pólen, começaram a
desaparecer...
Sim, fizestes-vos preguiçosos, já não quereis
fazer nada manual, precisais de consumir muita electricidade e, para
isso, interferístes com o livre-arbítrio de outros seres vivos, os rios,
que escolheram por onde descer quando nasceram... Cortastes seu
percurso com altos muros, para aprisionares o precioso líquido que os
rios transportam, a puríssima água. Depois, inventástes parques de
campismo à sua volta, mais umas praias fluviais, mais umas motas de água
a poluírem junto convosco...
Estremeci, quando vi que do meu
corpo só saía o sangue das matanças que vós fizestes, pois além de vos
matardes uns aos os outros, ainda matastes os meus meninos, meus
bebezinhos_ os infelizes animais, que vós entedestes que estavam cá só
para vos servir e satisfazer a vossa gula!
Sim, estremeci, meus
espasmos transformaram-se em terramotos! Fiquei zangada, meu furor
transformou-se em chamas! Esbracejei! E desse erguer de braços ao céu
desencadeei vários ciclones e tufões.
Preparem as vossas coisas,
pois em breve terão de ir morar com os vossos Tios, noutros Planetas
meus Irmãos, porque eu estou moribunda...
Assina:
PLANETA TERRA_A VOSSA MÃE.
Florinda Rosa Isabel
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