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Caros Amigos, Como habitualmente às terças-feiras, voltamos para a partilha do texto aleatoriamente seleccionado. E hoje foi selecionado o livro IV da obra em 4 volumes com o título genérico TEORIA DO CAMPO-CAMINHO UNITÁRIO, de Fernando Pereira Nogueira, inserido na Colecção "Saberes". IV Volume - DA RACIONALIDADE ORGÂNICA - ASCESE RELIGIOSA E ASCESE CIENTÍFICA, A METODOLOGIA ORGÂNICA E A CIÊNCIA Capítulo: A Metodologia Orgânica e a Ciência no Quadro da Racionalidade Orgânica (parte - págs. 147 a 150) Porque no quadro epistemológico mecanicista, todas as teorias se apresentam necessariamente como pretensas fortalezas hermeticamente edificadas sobre um absoluto obviamente não explicado, à volta de uma Invariante, que fecha o sistema. Criam-se, então, tantos sistemas fechados quantas as teorias, cada qual demarcando a sua fatia do Real. Donde, o estabelecerem sempre uma disjunção mecânica onde, apesar de tudo, há também uma continuidade relativa; ou um continuum redutor onde, no entanto, há também uma relativa descontinuidade. É o que denuncia Edgar Morin no excerto que a seguir se transcreve de «O Problema Epistemológico da Complexidade»: – «Assim, o âmago do paradigma da simplificação, que guiou a ciência clássica, é o primado da disjunção e da redução. Ele determina um tipo de pensamento que separa o objecto do seu meio, separa o físico do biológico, separa o biológico do humano, separa as categorias, as disciplinas, etc.. A alternativa à disjunção é a redução: – este tipo de pensamento reduz o humano ao biológico, reduz o biológico ao físico-químico, reduz o complexo ao simples, unifica o diverso. Por isso, as operações comandadas por este paradigma são principalmente disjuntivas, principalmente redutoras e fundamentalmente unidimensionais. Se se obedece apenas ao princípio da disjunção, chega-se a um puro catálogo de elementos não ligados; se se obedece ao princípio da redução, chega-se a uma unificação abstracta que anula a diversidade. Por outras palavras, o paradigma da simplificação não permite pensar a unidade na diversidade ou a diversidade na unidade, a unitas multiplex, só permite ver unidades abstractas ou diversidades também abstractas, porque não coordenadas. Neste sentido, falei do «grande paradigma do Ocidente» que Descartes formulou quando afirmou a não comunicabilidade entre o domínio do sujeito, que era o da cogitação, da filosofia, e o domínio do objecto, da coisa extensa, que era o domínio da ciência. A disjunção entre o sujeito (ego-cogitans) e o objecto (res-extensa) remetia o primeiro para a filosofia e o segundo para a ciência, mutilando uma e outra; daí este divórcio, trágico para ambas, entre ciência e filosofia.» E aí está a manifesta incapacidade da ciência de raiz epistemológica mecanicista de compreender a articulação orgânica continuidade-descontinuidade, a sua metodologia isolacionista ou redutora à vez, o jogo positivista da árvore que esconde a floresta e da floresta que esconde a árvore, que estuda as coisas e os fenómenos desintegrados do seu contexto, em circuito fechado, esta incapacidade epistemológica e metodológica de prescindir de absolutos explicativos carentes por sua vez de explicação, redundando numa sucessão tendencialmente infinita de teorias disjuntivamente fechadas que se vão substituindo redutoramente, conforme a perspectiva exclusivamente particularista ou exclusivamente generalista, mas sempre mecanicista, com que se encare unilateralmente a realidade. O positivismo aparta umas das outras as diversas perspectivas de estudo da realidade, não pela justa crítica aos métodos utilizados, não pela exigência, que seria razoável, de métodos rigorosamente científicos, mas com base em preconceitos de tipo fronteiriço. Como o considera Piaget: – «O positivismo é uma doutrina que delimita os problemas em duas categorias: por uma lado, os problemas científicos; por outro, aqueles que o não são, e que podem ser filosóficos. Não sou positivista, por duas razões: a primeira porque todas as fronteiras que tentámos traçar para a ciência têm sido violadas, e também porque as profecias dos positivistas nunca se realizaram; (...). Segunda razão: a ciência é aberta e essencialmente dialéctica, vive de crises internas imprevistas e, logo, de saltos; consequentemente, é impossível para o que já existe, e para o que existirá, classificar os problemas como problemas científicos e como problemas filosóficos; são os métodos e não os problemas, que distinguem as duas categorias de investigação.» br /> Os positivistas opõem mecanicamente o particular ao geral, o singular ao universal. E começando por separar o particular do geral, e opondo a ciência à filosofia, acabam por diluir o «rebotalho filosófico» na ciência. Têm um conceito pejorativo das ideias gerais, que acusam de vacuidade, incapazes de lhes inteligirem o conteúdo e o valor epistemológico. Mas esses especialistas de mentalidade positivista não fazem mais que, como o considera Edgar Morin, exprimir uma ideia geral ainda mais vazia, uma ideia hiper-geral sobre o valor das ideias gerais. E como não têm competência filosófica, que desprezam, nem o espírito crítico que ela faculta, acabam por ser vítimas da pior filosofia, e por se transformar em súbditos arrogantes do império das mais disparatadas ideias gerais, não sendo raro assistirmos a manifestações de autêntico infantilismo intelectual por parte de gente até «laureada» e com placa de bronze à porta. Assim, o positivismo acaba por situar-se ao mesmo nível epistemológico, ainda que no polo diametralmente oposto, da filosofia naturalista metafísica, que, por sua vez, tende a diluir o particular no geral, as ciências na filosofia, o que tem conduzido à edificação de mastodônticos e inúteis sistemas metafísicos, sempre determinados por uma ingénua pretensão de se substituírem às ciências particulares. Ora, a Teoria do Campo Unitário propõe à ciência o método orgânico dialéctico-estruturalista, que estabelece a continuidade-descontinuidade a todos os níveis: – seja ao nível do objecto de estudo de cada ciência, das próprias ciências que o estudam, ou da ciência e da filosofia. E, assim, justificando metodologicamente a multiplicidade das ciências e a diferenciação da ciência e da filosofia, e a diversidade da natureza, enquanto, simultaneamente, reafirma a unidade da mesma natureza, das ciências, e da ciência e da filosofia. Assim, o método orgânico que a Teoria do Campo Unitário de algum modo impõe à ciência, permite-nos afirmar a validade científica e a potencialidade epistemológica e metodológica da Ciência Unitária tendencialmente universal que ela perspectiva, sem negar o carácter também necessário da multiplicidade das ciências. Mas o positivismo não aceita a reflexão para além do campo da experiência mecanicista imediata. No quadro conceptual do positivismo isolacionista até se engendrou nas últimas décadas uma espécie (tão pobre ele é na forma, e ainda mais no conteúdo) de argumento que, no entanto (e a isso não será alheia a sua pobreza), ganhou um carácter ideológico e a dimensão do “popularucho”, e segundo o qual a extensão imensa dos conhecimentos científicos acumulados neste século já torna impraticáveis as grandes sínteses filosóficas do passado.
16 de Junho, 2020
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quarta-feira, 17 de junho de 2020
DA RACIONALIDADE ORGÂNICA _PUBLICAÇÕES MAITREYA.
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