MUITA GRATIDÃO. OM SHANTI!
Imaginemos que caminhamos na rua com as mãos cheias de sacos de compras e súbito alguém vem violentamente contra nós, nos faz cair e ficamos estatelados no chão sobre um monte de coisas partidas, entre as quais objectos valiosos e comida e líquidos que nos estragam as roupas que acabámos de comprar e de que gostamos tanto. Como nos sentiríamos e o que faríamos? Talvez nos levantássemos cheios de ira e nos precipitássemos sobre o sujeito para lhe gritar com raiva: “Seu grande idiota! Não vê o que faz!? Está cego!?”, mas, antes que nos saísse a primeira palavra dos lábios, vimos de repente que a pessoa é realmente cega e está igualmente por terra, magoada, confusa e toda suja como nós. Decerto que a nossa cólera se desvaneceria num instante e, em vez de o agredir e ofender, imediatamente o ajudaríamos a levantar, limpando-lhe a roupa e perguntando se está ferido e o que podemos fazer para o ajudar.
Qual a diferença entre esta situação imaginária e os encontrões reais da vida, os que nos dão e os que damos aos outros? Não estamos todos cegos, de egocentrismo, desatenção, cobiça, aversão, indiferença e ansiedade? Quando compreendemos realmente que esta cegueira ou ignorância é a fonte de toda a violência, injustiça, desarmonia e sofrimento no mundo, não nos resta senão abrir as portas da compreensão e da compaixão por nós e pelos outros. Como vemos pela nossa reacção perante esta situação imaginária, temos todos o potencial para isso. Porque não o exercitamos e desenvolvemos? Não será mais interessante orientar para isso as nossas vidas, em termos individuais e colectivos, do que esbanjá-las em mil e uma tarefas fúteis?
(recriação de uma imagem e reflexão de Alan Wallace, referida por Jack Kornfield em The Wise Heart, 2009, pp.22-23)
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