Pouco a pouco, o mundo foi-se
transformando, quase em darmos por isso. Habituámo-nos a ver
algumas crianças bem vestidas, ao colo dos pais, agora, em
grande parte desta civilização "moderna"
portuguesa (não sei como é fora daqui...) vêm-se crianças
metidas nos infantários e cães ao colo dos "tutores"
ou "pais" (é 'proibido' dizer donos), muito bem vestidos,
capinha com touca incluída, bordada com figuras de cãezinhos... E,
desgraçadamente, esses seus "filhos adoptivos" nem
sabem fazer aquilo que os filhos humanos sempre fizeram sem ninguém
"ordenar", pois seus "papás" colocam-nos no
chão, de forma a que a trela extensível chegue às rodas dos
automóveis e ordenam: «Faz chichi!»
Recentemente, uma activista, aos 30 anos de
idade e com vários canais no YouTube, invadiu as
instalações da empresa, que afirmava odiar, pois lhe prejudicava o
seu trabalho de activismo, filtrando os seus vídeos e
queixava-e de que estavam com baixa visualização. Acabou por ferir
pessoas, a seguir suicidou-se.
Lamentável, na flor da vida... Mas
problemas com activistas estão a acontecer com alguma frequência,
muitos deles estão afastados de Deus, contam, apenas, com a sua
força física e o seu raciocínio. E, também, o seu grande amor aos
animais. Orgulham-se de serem vegans, e ai de quem não for, se
existem ainda alguns moderados, de bom trato e educados, outros há
que envenenam a atmosfera com palavras de ódio e pragas, desejando o
pior a quem maltrata os animais e aos que se alimentam de
carne. Ela própria dizia que odiava a empresa do YouTube.
Ora, vamos considerar os factos. Passámos de
um extremo ao outro. Enquanto, há alguns anos, muitos animais eram
escravizados, actualmente já não se podem considerar escravos (com
algumas excepções), sua ajuda aos donos é mais moderada, mas os
activistas citadinos ou, mesmo, da província, mas de gerações a
seguir à minha, têm dificuldade em compreender e aceitar que alguns
animais ajudem seus donos. Sim, neste caso, donos, pois não
imagino um casal com um burro no colo e a dizer que é filho
adoptivo.
Os animais fazem despesas, precisam de
ferraduras, de alimentação e cuidados de veterinário, se
adoecerem. Ainda não há muito tempo, alguns activistas
apanharam um vídeo no YouTube, onde se via um burro preso a uma
nora, a tirar água num poço, para alguém regar a plantação de
milho. A fotografia já não é recente, penso que já não
cultivem milho lá nessa aldeia, as pessoas vão avançando na
idade. Mas, no tempo da minha juventude, tínhamos um
burro, nora e plantações de milho. Muito longe de casa, se o
burro não ajudasse a tocar a nora e a carregar uns sacos de milho,
como poderíamos tirar a água a balde para a rega e trazer a
produção toda sozinhos, eu adolescente e de fraca constituição
física, meus Padrinhos, de idade avançada, pois só foram para a
província após aposentação do meu Padrinho?
E ninguém avalie a força de um burro pela
força humana, o que para nós é muito, para eles não é tanto
assim, pois eles são bem mais inteligentes que os humanos e
sabem dar sinal assim que começa a ser demasiado, o contrário dos
humanos que, mesmo sabendo que algo não lhes faz bem, continuam...
O nosso burrico dava sinal sonoro
debaixo do alpendre da nora, que meu Padrinho fizera para ele
descansar sempre que precisasse. Meu Padrinho tirava-o para outra
sombra, retirava-lhe os arreios, colocava um balde com
água e alguma comida e deixava-o descansar... Tal como os humanos,
que têm o seu intervalo para beber o cafezinho...
Esses doutorados que aparecem por aqui a
fazer barulho, de onde pensam que os pais ou os avós deles
conseguiram dinheiro para eles estudarem? Falar de barriga cheia é
fácil...
Claro, os tempos são outros, mas convém não
esquecer que Portugal não é composto só de catedrais de consumo em
todo o território, ainda há muita terriola escondida onde o diabo
perdeu as botas, que nada lá chega, por falta de acessos a veículos,
e já quase ninguém se sujeita a carregar para venda em aldeolas.
Se não cultivarem as hortas, não têm esses produtos. E têm de se
deslocar a cavalo no seu burrico até à vila ou à freguesia mais
próximas, para adquirirem géneros de mercearia ou de farmácia
e, também, os pensionistas, para levantarem suas pensões de
velhice, pois são muitas das vezes esses que recebem pensão de
velhice, que conseguem trabalhar, até mais que alguns jovens...
E foi assim que, recentemente, começaram
aparecer muitos burros abandonados e a morrerem de fome, porque
nenhum activista daqueles que contribuíram para o seu abandono, se
ofereceu para ser um "mecenas burrical"...
05 de Abril de 2018
Florinda Rosa Isabel
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