sexta-feira, 1 de julho de 2016

«NÃO ME JULGUE, POR FAVOR», PEDE O PROFISSIONAL DA... MORTE!

A maioria não vai conseguir chegar ao final do texto... Eu, que estou habituada a ler textos "fortes" ( no sentido de violência e sofrimento animal), deixei rolar muitas lágrimas ao reler esta memória...
(Florinda Rosa Isabel

Sei que vocês odeiam textos grandes, mas ler ou não vai da vontade de cada um. Este é um depoimento de um homem que sacrifica animais para o centro de controle de zoonoses de SP. Não tem como não ficar chocado.
"Sim, eu mato cachorros e gatos pra ganhar dinheiro. Eu trabalho no centro de controle de zoonoses em São Paulo. Eu, com 32 anos, trabalhando há 6 anos assim. Não há muito trabalho aqui, e trabalhando como funcionário público, ganho benefícios e garantias que pessoas igual a mim, apenas com o ensino médio concluído, precisam. Eu sou a pessoa que vocês falam que é horrível.
Eu sou aquele que coloca cachorros e gatos em câmaras de gás e faz eles sofrerem. Eu sou aquele que coloca os cadáveres deles em sacolas plásticas, cheirando a monóxido de carbono. Mas eu também sou aquele que odeia o meu trabalho, e odeia o que eu tenho que fazer.
Primeiro de tudo, pra todas essas pessoas que estão me julgando por aí: Por favor, não. Deus está me julgando, e eu sei que vou pro inferno. Sim, eu vou pro inferno. Não vou mentir, é ruim, frio e doentio o que eu faço. Me sinto como um Serial Killer. Se a lei obrigasse aos donos a castração e vacinação dos cachorros, a maioria desses cães e gatos não estariam aqui pra morrer. Eu sou o diabo, eu sei, mas quero que essas pessoas que me julgam, saibam que existe um outro lado de mim, fora o cara que mata cachorros com monóxido de carbono.
Geralmente, as câmaras funcionam às sextas-feiras.
Sexta é o dia que as pessoas mais gostam, geralmente. Eu odeio esse dia, e sempre desejo que o tempo pare em alguma quinta à noite. Vou contar o que eu faço um dia antes da sexta-feira.
Quinta de noite, quando mais ninguém está nas ruas, eu e um amigo vamos em algum fast food 24 horas e compramos 50 reais do hambúrguer mais barato. Eu não sou autorizado à alimentar os cachorros quinta-feira, pois além de fazer sujeira, é um desperdício, já que eles vão morrer no dia seguinte.
Então, quinta de noite, eu entro no centro de controle de zoonoses, e vou para onde os cachorros estão presos. Abro as celas/gaiolas, e deixo todos saírem.
Eu nunca fui mordido, em todos esses anos fazendo isso, e os cachorros nunca pularam em cima da comida, ou morderam uns aos outros. Meu amigo e eu abrimos cada hambúrguer, e deixamos os cachorros magros (todos eles) comerem.
Eles engolem a comida tão rápido, que é difícil acreditar que eles conseguiram sentir o gosto. Os rabos balançam rápidos e fortes. Alguns dos cachorros nem querem saber da comida; apenas viram a barriga pra cima e ficam esperando por carinho. Eles começam então a correr, pular e lamber eu e o meu amigo, então voltam pra comida, e depois voltam pra mim e meu amigo. Dá pra perceber nos olhos deles, que estão cheios de confiança e esperança em nós (presos há tanto tempo, acham que vão sair agora). Quando acaba a comida, é hora de brincar um pouco com eles. Eu e o meu amigo sentamos no chão sujo, cheio de urina, restos de comida e poeira; e deixamos os cachorros pularem na gente. Eles lambem a gente, brincam uns com os outros, e latem. Mas é aquele latido de felicidade sabe?
Eu olho nos olhos de cada cachorro, e dou um nome pra cada um. Eles não vão morrer sem um nome. Dou pra cada cachorro 5 minutos de atenção individual. Eu falo com eles, e peço desculpas pelo o que vou fazer no próximo dia. Isso deve confundir a cabeça deles. “Desculpa, eu vou te matar”. Sim, eles entendem.
Falo pra eles que logo, eles estarão em um lugar melhor, e imploro para que não me odeiem.
Falo que sei que vou pro inferno, mas que eles estarão brincando em algum lugar melhor.
Depois de uns 30 minutos, após falar com cada cachorro individualmente, coloco-os nas suas jaulas de concreto, faço um último carinho em cada um, e alguns me dão a pata. Nesse momento eu quero morrer. Eu apenas quero morrer. Fecho a porta da jaula de cada um, e peço pra eles me desculparem. Quando eu e meu amigo estamos saindo, vemos que os cachorros estão olhando pra gente, estáticos, esboçando um sorriso, creio eu. Eles vão dormir felizes, e com uma falsa sensação de segurança.
Quando saímos da sala dos cachorros, nós vamos pra sala dos gatos.
Pegamos uma caixa, e colocamos filhotes de gato, e gatas grávidas nela. Me sinto brincando de Deus, escolhendo qual vai sobreviver. Não posso tirar todos os gatos de lá, ou o meu chefe iria perceber, óbvio. Colocamos os gatos no meu carro, no banco de trás mesmo, e vamos pra uma cidade vizinha, onde os animais são mortos por injeção letal. Escolho algum bairro nobre, e deixo um ou dois gatos por vez, na esperança que alguém encontre esses gatos, e adote-os.
Quando deixo eles no chão, eles não saem correndo, como os gatos sempre fazem. Eles ficam parados, esperando que eu os coloque de volta no carro, e isso me deixa triste, já que tenho que espantar eles.
Se ninguém adotá-los, eles serão mortos por injeção letal, que não é dolorosa.
Quando termino de fazer isso, geralmente é 5 da manhã, faltando duas horas pro meu trabalho começar. Vou pra casa, tomo um banho e 4 comprimidos de Rivotril (remédio pra ansiedade). Eu não como nada, não consigo comer. É hora de colocar esses animais (e meus amigos) na câmara de gás. Coloco os meus protetores de ouvido, e quando vou pegar os cachorros, eles estão muito felizes por me ver. Meu Deus, como eu me odeio. Eles estão pensando que vamos brincar. Coloco eles em uma corrente coletiva e levo-os para a câmera de gás.
Eles sabem. Agora eles sabem. Eles conseguem sentir o cheiro do medo, eles podem sentir o cheiro da morte também. Eles começam a chorar, na mesma hora em que entram na câmara. Meu chefe fala pra colocar o máximo de animais que eu conseguir na câmara, pra economizar gás. Ele assiste. Ele sabe que eu odeio o que eu faço, e ele sabe que eu odeio ele. Eu faço o que ele manda. Ele assiste enquanto todos os cães e gatos (eles são colocados juntos) estão chorando, e depois gritando, enquanto alguns vomitam, até vir o silêncio. Esse silêncio é horrível.
Enquanto o processo acontece, eu vou pro banheiro, o mais rápido que eu posso, e fico me olhando no espelho. Tenho nojo de mim mesmo.
Eu rezo pra que nenhum tenha sobrevivido, pois ele vai ter que passar por isso de novo, caso aconteça. Coloco as luvas, abro a câmara, e sinto aquele cheiro horrível de monóxido de carbono. Pior ainda é o cheiro dos vômitos e do sangue. Coloco todos em sacolas plásticas.
“Eles estão no céu agora”, digo pra mim mesmo. Começo a limpar a sujeira, que VOCÊS fizeram. Sim, vocês. Vocês abandonaram seus cães e gatos, vocês não vacinaram eles e quando eles ficaram doentes, soltaram eles nas ruas. Vocês não castraram elas, e quando ficaram grávidas, soltaram elas nas ruas.
Vocês que pagam os impostos que mantém esse lugar. Peçam pra isso parar.
Então, não me chame de monstro. Olhe no espelho um pouco, e saiba que você também faz parte disso. Você não faz nada pra isso mudar.
Como sempre, vou tomar comprimidos pra conseguir dormir, e apagar os gritos e choros que eu sempre ouvia dos meus amigos, os cães e gatos, antes de descobrir os protetores de ouvido.
Essa é a minha vida. Não me julgue, por favor, eu faço isso o tempo inteiro.






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