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Ora, hoje, acordei a pensar na quantidade de crianças obesas que encontro diariamente por onde quer que vá.
E penso, igualmente, naquilo que os amados Mestres costumam dizer a respeito do choro dos bebés, estes choram porque ainda estão ligados à Fonte, onde tudo é harmonia e belo. Assim que ouvem discussões, o barulho e as imagens da televisão, choram, não conseguem dizer que estão a ser agredidos...Vão crescendo e habituando-se ao ambiente familiar, até que, chegando a uma certa idade, a lembrança da Fonte esvai-se...
Assim, quando o bebé chora e lhe chegam o alimento à boca e ele se desvia e não quer, penso que, nessa altura, há a incapacidade de distinguir entre um provável problema de saúde ou se está saciado...
Mas quando já criança, é só teimar para que coma, até ficar empanturrada, por vezes "cheia" de comida que não alimenta, é o que leva alguns pais que conheço a dizerem que os seus filhos comem muito porque são jovens...
E penso que isso não corresponde à verdade. Eles comem muito, dilatam o estômago e cada vez têm de comer mais para o encher, mas como o alimento não presta, ficam obesos...
Os amados Mestres também chamam a atenção de que as crianças detestam a carne, pois ainda sabem o que lhes convém, devido a uma vaga lembrança da Fonte. São os pais que as obrigam, depois de muito tempero... «Come o bifinho, vá...»
E penso muito na minha infância, quando o médico informou minha Madrinha de que eu tinha de comer bifes em sangue, devido a uma doença pulmonar.
Eu chorava, não comia por ver o sangue... Alguém a aconselhou a partir o bife e passá-lo levemente na frigideira. Ela fazia isso, mas como eu tinha dificuldade para engolir, devido a debilitações congénitas, não foi fácil.
Naquele tempo, não havia a variedade de alimentos como há actualmente, com a agravante de ser tempo de guerras, havia racionamento de tudo, carne, pão, batatas... até o carvão para o fogareiro era escasso...
Minha madrinha chegou a comprar fava de ração dos cavalos, para demolhar e substituir as batatas.
Penso muito nos meus Padrinhos, naquilo que retiraram da sua parte de racionamento, que não comiam, para me darem a mim...
Muitas crianças morreram com fome.
Muitas mães morreram com fome, para que seus filhos fossem sobrevivendo...
Nestes tempos de esbanjamento, com tantos pratos cheios de comida a serem retirados das mesas dos restaurantes, porque a gula pede variedade e, depois, não cabe tudo... eu penso e recordo a minha infância, sim.
Pronto, pensei e disse o que pensava.
(Florinda Rosa Isabel)
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