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Mas não é por se sofrer pelo facto de se estar em tal ou tal lugar que se terá sempre a possibilidade ou o direito de mudar. São as leis do carma, as leis do destino, que decidem o lugar de cada um, pois esse lugar é o que ele merece, ou o que se afigura mais favorável à sua evolução. Se alguém se escapa para um lugar que acha mais desejável, mais confortável, agrava a sua situação. Aquele que, pelas suas intrigas, consegue apoderar-se de um lugar reservado a outro, que é mais digno do que ele de o ocupar, terá de o deixar de uma forma ou de outra; e aquele que permanece modestamente na sombra poderá ser chamado a desempenhar as mais altas funções.
Por vezes, no teatro, um espectador vai sentar-se sem cerimónia, na primeira fila, esperando que ninguém o venha desalojar. Mas eis que um empregado se aproxima, pede-lhe o bilhete e manda-o para o "galinheiro"; depois, aquele que tinha reservado aquele lugar vem e ocupa-o. Pois bem, passa-se a mesma coisa na vida. Se alguém ocupa momentaneamente o lugar que deveria ser vosso, não vos inquieteis, a "empregada" virá e o usurpador será expulso. Sim, neste grande teatro da existência, cada um recebe um número correspondente ao lugar que deve ser o seu e cabe-lhe a si encontrar e interpretar esse número.
Como o peixe dentro de água, a toupeira debaixo do chão, o pássaro nos ares e a salamandra, digamos, no fogo, cada criatura deve encontrar o seu lugar. E qual é o lugar do ser humano? O universo inteiro e, nesse universo, os diferentes organismos que o constituem têm uma ligação com os quatro elementos: o corpo físico com a terra, o coração com a água, o intelecto com o ar, a alma e o espírito com o fogo.
Encontrar o seu lugar numa família, num país, numa profissão, não é suficiente. Se o coração, o intelecto, a alma e o espírito não encontrarem também o lugar onde receberão o alimento de que necessitam, o homem sentir-se-á sempre insatisfeito. O coração necessita de calor, de amor; o intelecto necessita de luz, de sabedoria; a alma necessita de imensidão e o espírito de eternidade. Ora, sob pressão de certas circunstâncias, pode acontecer que o vosso coração fique arrefecido, o vosso intelecto obscurecido, a vossa alma apertada e o vosso espírito paralisado. Nesse momento não há outra solução a não ser deslocardes-vos, para proporcionardes a cada uma das vossas faculdades as condições de que elas necessitam para se desenvolverem, e essa deslocação chama-se reflexão meditação, oração, contemplação, identificação.
Deslocar-se é, evidentemente, algo que muitas pessoas sabem fazer espontaneamente. Quando se sentem nervosas ou prestes a perder a paciência, saem de casa dizendo que "vão dar uma volta", "apanhar ar". Outras, as que podem, vão de viagem para mudar de clima. Por vezes, basta beber um copo de água ou comer uma fruta para se mudar o seu estado interior. Mas quantos há que preferem atirar-se a uma caixa de aspirinas ou a um copo de álcool!...
É óbvio que há acontecimentos na vida que vos mergulham em preocupações ou sofrimentos impossíveis de ultrapassar rapidamente. Mas quantas vezes vos deixais importunar ou abater por inconvenientes sem gravidade e que é fácil esquecer!
Mestre Omraam Mikhael Aivanhov (1900-1986), filósofo e pedagogo francês de origem búlgara.
Livro: «Nas Fontes Inalteráveis da Alegria» Colecção Izvor.
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(Florinda Rosa Isabel)
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