A Escrita Perfeita - 1 de Novembro, 2016
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Caros Amigos,
Como habitualmente às terças-feiras, partilhamos mais um texto que aleatoriamente foi selecionado, esperando que vá ao encontro da necessidade da maior parte de vós. O livro hoje selecionado foi "A ESCRITA PERFEITA - SÂNSCRITO - Pequeno Dicionário de Sânscrito, Comentado", de Maria Ferreira da Silva, inserido na Colecção "Missão Lusa".
Páginas 113 a 116 - parte da letra "D":
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*Dama – Segundo o Vedānta1 o corpo físico do homem é constituído pelos cinco órgãos dos sentidos2: ver, ouvir, gostar, tocar e cheirar; pelas cinco faculdades de acção: fala, apreensão, locomoção, evacuação e procriação; pelos cinco aspectos da respiração vital e pelos quatro órgãos superiores (subtis) do conhecimento, os quais constituem, o “órgão interno” o antaḥkaraṇa. O antaḥkaraṇa, o que controla os sentidos, manifesta- se como ego “o sentido do eu” (ahaṃkāra) e é constituído por memória (cittam) compreensão (buddhi) e pensamento (manas). Dama refere-se à atitude de preservar este “corpo interno” do mundo exterior, pelo autodomínio. Este reconhecimento pode considerar-se perfeito quando cessam os movimentos mentais e suas modificações. Toda a filosofia hindu parte do princípio de que, o que conhecemos como estado de vigília serve para educar e superar os sentidos (incluindo emoções), por uma prática espiritual para chegar ao domínio interno através da mente.
*Darśana – Os seis sistemas filosóficos-religiosos considerados como aspectos de uma tradição ortodoxa são: Mīmāṃsā e Vedānta3, Sāṃkhya e Yoga, Vaiśeṣika e Nyāya. Os darśanas pluralistas, Vaiśeṣika e Nyāya agruparam-se numa única doutrina. Vaiśeṣika, quer dizer, “diferença das realidades” comporta uma ontologia e, Nyāya desenvolve uma teoria de conhecimento baseado na lógica, que significa “regra”, “método”, bem como ideias bem estruturadas sobre a origem e final do Universo e dos seres humanos. Os dois darśanas tratam de considerações sobre a Consciência desperta. Vaiśeṣika é uma filosofia atomista que retira o seu nome de viśeṣa “diferença”. Os átomos só são visíveis quando se combinam para formarem substâncias pois só assim adquirem extensão e visibilidade. Desta forma o universo ou o ciclo cósmico dependem desta combinação para dar lugar à criação e à dissolução do Cosmos. Estes ciclos arrastam as almas ao mundo manifestado em transmigrações infindáveis. Porém, entre a dissolução e a criação, as almas (Consciências) conservam os seus méritos e deméritos. Preconizam ambas o ideal da libertação dos ciclos da vida e da morte pelo desapego consciente que culmina num estado de kevala, o isolado da matéria ou da existência para atingir mokṣa. Sāṃkhya significa “reflexão ordenada” ou “enumeração” e Yoga significa “unir” “juntar” e ambos tratam dos princípios (tattvas) resultante dos efeitos de Puruṣa em Prakṛtī, os dois aspectos da matéria e do Espírito, que suportam as experiências de vigília e sono4, dois dos quatro estados de consciência do homem. Yoga, não só representa a união, o samādhi ou meta suprema, como o unir todas as partes do ser humano através da mente ordenada nos seus processos de fortificar e acalmar – a mente deve ser superada pela união. No Mīmāṃsā e no Vedānta também se encontra correspondência, principalmente no que refere ao quarto estado de consciência do homem ou turīya, princípio transcendente não- -dual, Brahman. Mīmāṃā, significa pensamento, reflexão e investigação e também teoria. O Vedānta dividido em Advaita e Dvaita contem toda a sabedoria dos Upaniṣadas. Há assim nos seis darśanas muitos pontos em comum, baseados todos eles nas realidades fundamentais do Universo e do próprio homem. Cada sistema ou “ponto de vista” é no fundo uma escola de profundidade espiritual, que se descreve como um caminho consciente de libertação pessoal. Com excepção de uma ou outra corrente mais racional ou materialista coincidem todas no ponto fundamental ser o Homem, o Puruṣa, um complemento à manifestação do Espírito, o Ātman.
*Dehin – “O possuidor dos corpos”. O Eu imperecível que nunca morre e se manifesta através dos seus vários corpos, tanto no que respeita a novos corpos físicos e etéricos em cada vida, como no que respeita à mudança constante que se opera na estrutura física e psíquica, pela impermanência da matéria, que se desgasta e transforma. Refere as etapas físicas da infância, da juventude e da velhice mas também as de ordem espiritual, devido à evolução de Consciência que transmuta, inevitável e consequentemente, os corpos físicos, bem como os corpos subtis.
*Dhāraṇa – Concentração. Significa “confinamento em um território”. Pela prática de dhāraṇa se criam as condições para dirigir a mente para uma só direcção. Os meios que se podem usar para a concentração são diversos, desde mantras a maṇḍalas, a yantras, à respiração (prāṇayāma) e as posturas (āsana); à interiorização num ponto da mente, numa deidade (Īśvara), segundo Patañjali, ou a (Brahman), segundo Śaṅkara. São “ferramentas” que levam à aquietação da mente e que permite a identificação com o objecto de concentração, para então obter o estado de meditação (dhyāna). Na classificação dos “Oito Passos” do Yoga de Patañjali é o sexto passo. O fundamental neste passo (prática) é confinar a mente a uma esfera limitada, definida pelo objecto de concentração. A mente fica restrita (nirodha) numa área que limita os pensamentos, pois o objectivo é reduzi-los ou mesmo eliminá-los, para poder avançar para os passos, sétimo e oitavo, que são respectivamente: dhyāna, a meditação e samādhi, a união.
*Dharma – Dharma, conceito importante em toda a Índia com muitos significados como “dever”, “rectidão” e “ética”, os quais são na realidade valores comuns que se aplicam a toda a humanidade. Corresponde à terceira das quatro metas da vida e que abrange todo o contexto de deveres religiosos e morais contidos nos textos, os tratados Dharmaśāstra e Dharmasūtra, “Os livros da Lei”. Os textos principais são atribuídos a Manu, antepassado do homem ou seu progenitor, e outros a iminentes personagens míticas, diversos mestres, santos e filósofos da antiguidade. As restantes etapas (de vida) são Artha, cujos preceitos estão contidos no manual Arthaśāstra, que trata dos aspectos sociais e políticos, de Kama, o prazer e o amor, e Mokṣa, a libertação final.
............................ 1 Nem todos os sistemas são concordantes nas classificações e mesmo nas traduções. 2 Cf. Indriya. 3 Cf. Vedānta 4 Cf. Māṇḍūkya Up.
Até breve!
01 de Novembro, 2016
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