segunda-feira, 30 de maio de 2016

POSFÁCIO DO LIVRO CRIAÇÃO ARTÍSTICA E CRIAÇÃO ESPIRITUAL DE OMRAAM MIKHAEL AIVANHOV

(Actualmente esgotado, nova edição em preparação para breve)

POSFÁCIO

Gostaria de concluir este pequeno livro tecendo algumas considerações de importância para o futuro da arte e até da humanidade.
Observando os acontecimentos (porque,vivendo neste mundo, não posso deixar de ver o que nele se passa), constato que, cada vez mais, os homens estão a perder algo essencial. Há muitos sinais que o evidenciam: eles já não sabem em que acreditar, nem para onde se dirigir e, a despeito da cultura e da ciência, a despeito dos progressos em todos os domínios, vão-se tornando cada vez mais inseguros e perturbados. Ora, a meu ver (e tenho todo o direito de me pronunciar, uma vez que toda a gente se pronuncia), o que falta aos humanos é um verdadeiro sistema filosófico.
Como cada  um é livre de inventar ou de acreditar no que lhe apetecer, vemos aparecer toda a espécie de opiniões e de teorias bizarras. Mas não existe um sistema sobre o qual o mundo inteiro possa apoiar-se. Ou melhor, existem tradições espirituais e morais, mas a maioria deixou de acreditar nelas e deixa-se influenciar por tudo aquilo que é tenebroso, que é uma deturpação, uma perversão. Os humanos já não gostam de nada que seja verdadeiramente sensato, ordenado, harmonioso, estão fartos disso, sentem necessidade de outra coisa... para variar! E para variar fazem não importa o quê.
Infelizmente, esta tendência nota-se sobretudo na arte. Porque será que os pintores, os escultores os músicos, os poetas e os cineastas se obstinam em reproduzir tudo o que é feio, deformado, caótico?
Parece que todas as fontes de inspiração estão esgotadas e, por isso, todos eles ficaram sem nada que fazer. Já não sabem elevar-se, como faziam os artistas de outrora, para procurar inspiração no Alto, para captar as cores, as formas, as melodias que vêm do Céu. Assim, tomam o caminho descendente, embrenham-se em subterrâneos, mergulham nas profundezas obscuras  da subconsciência; aí fervilha uma fauna de animais pré-históricos_há muito desaparecidos da face da terra mas que ainda subsistem na alma humana  sob a forma de instintos, de impulsos, de desejos, de sentimentos inferiores_ e plantas venenosas exalam vapores que perturbam a razão.
Alguns alegam que procuram assim novas formas. Não está interdito aos artistas procurarem a novidade, pelo contrário, mas porque é que eles hão-de procurá-la em baixo, afastando-se cada vez mais da Fonte? Eles não são esclarecidos por Iniciados, não têm qualquer ciência, qualquer filosofia, e abandonam-se ao instinto, ao impulso de criar. É claro que se pode criar qualquer que seja a direcção tomada_ boa ou má, luminosa ou obscura. Quando os seres se afastam da Fonte, do sol espiritual, também encontram formas e aspectos novos, até ao infinito. Mas essas formas contribuem ainda mais para extraviar aqueles que as contemplam. É maravilhoso querer ser criador, mas há que pôr em questão o valor daquilo que se faz, senão só se cria monstruosidades! É verdade que desse modo  algo é posto no mundo (assim como quem põe um ovo), mas o que é que isso traz? Aonde é que isso conduz? É algo em que ninguém pensa.
As pessoas afirmam que  têm necessidade de fazer sair qualquer coisa de si próprias. Não é lá muito original. Todos os seres têm necessidade de fazer sair, de uma maneira ou de outra, qualquer coisa de si próprios, mas será necessário mostrar-se tudo o que sai? Desculpai-me, mas duas ou três vezes por dia todas as pessoas têm necessidade de fazer sair algo de si, mas não vão apresentá-lo numa bandeja para ser apreciado. Ora, no domínio artístico, é precisamente isso que fazem certos criadores. Apresentam em público os seus excrementos para que os outros inspirem o seu odor e os engulam. Direis: «Que exagero!» Não, não é exagero nenhum! Mas, quando os artistas forem instruídos em Escolas  Iniciáticas, ser-lhes-á mostrado o verdadeiro caminho da criação e eles produzirão obras de arte que reflectirão o Céu e inspirarão e dilatarão as almas humanas. Por enquanto, porém, que deslumbramento podeis vós experimentar perante tanta fealdade?
No passado, muitos artistas foram discípulos de Escolas Iniciáticas: era-lhes revelado como poderiam elevar-se até às regiões superiores para aí captarem formas, cores e harmonias. Esses artistas meditavam e praticavam a contemplação para receberem inspirações celestes. Quando conseguiam concretizá-las nas suas obras, estas agiam sobre os humanos levando-os a tomar o mesmo caminho em direcção às alturas. É por isso que, passados séculos, essas criações continua a agir sobre nós.
Presentemente, os artistas saem das Academias com toda a espécie de diplomas, mas não conhecem qualquer lei iniciática e elaboram imensas teorias para explicar que a sua arte contém toda uma filosofia, todo um pensamento que o comum dos homens não consegue compreender. Pois bem, não pode ser; se vós criais uma obra, é necessário que toda a gente compreenda o seu sentido. Se fizestes essa obra unicamente para vós, não deveis expô-la: de que serve apresentar uma obra da qual o público nada compreende? Também na arte a humanidade se extraviou, escolhendo formas de expressão destituídas de sentido e, hoje em dia, ninguém ousa sequer dizer que, na maior parte dos casos, a arte contemporânea não é mais do que uma aberração. Todos dizem "Ámen!" e aplaudem.
Há alguns anos, em Inglaterra, um pintor fez uma exposição com quadros abstractos, perante os quais os críticos ficaram extasiados. Depois de ter recebido numerosos cumprimentos, o pintor revelou o que se tinha passado: num dia em que saíra de casa, o seu gato, que ficara esquecido no atelier, divertiu-se a molhar a cauda e as patas nas tintas e depois passeou-se sobre umas telas, produzindo assim vários "quadros abstractos"... precisamente aqueles que o pintor expusera.  É claro que os críticos ficaram furiosos ao verificar que tinham sido idiotas ao ponto de se extasiarem perante os quadros feitos por um gato! Um gato, imaginem! Nestas condições, o primeiro incapaz que apareça, ou até um bebé, poderá fazer e expor o que quer que seja.
Eis a prova: há algum tempo, ouvi um coleccionador de quadros de pintores contemporâneos dizer que tinha ficado indignado porque umas pessoas que viram alguns desses quadros que ele tinha em casa lhe perguntaram ingenuamente, se tinham sido pintados pelos seus filhos. «Dais-vos conta_dizia ele_ da ignorância e da estupidez daquela gente?» Pois bem, em vez de ficar indignado, ele deveria ter reflectido. Será que alguém faria uma tal pergunta a respeito do quadros de Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Rafael, Botticelli, Durer, Le Greco, Velasquez, Van Gogh,  Delacroix ou Renoir?... E poderíamos citar tantos outros:  Giotto, Rembrandt, Ticiano, Brueghel,  Poussin, Rubens, Turner, Holbein, Cranach, Fragonard, Boucher, Monet, Degas, Cézanne... Não; perante os quadros desses artistas, temos a certeza de que são obra de génios. O que acontece é que, quando as pessoas perguntam se foi uma criança que fez certos quadros, elas têm razões válidas para o fazer.
Na realidade, se sois um artista deveis empreender uma obra que mais ninguém possa fazer, uma obra tão bela e tão educativa que projecte os corações e as almas para o Senhor e que, ao vê-la, todos sintam despertar em si o impulso para a perfeição. Eis como os Iniciados compreendem a missão da arte: conduzir os humanos ao Céu e não ao Inferno, à cacofonia, à desordem. Qualquer um pode compor, desenhar ou filmar horrores e apresentá-los, mas isso é criminoso, pois com o tempo essas "obras de arte" acabam por agir sobre a mentalidade do público. E se actualmente tantas pessoas ficam desequilibradas é porque, cada vez mais, lhes mostram apenas a desordem e a fealdade. Tudo o que ouvimos e tudo o que vemos age sobre o sistema nervoso. Quando contemplais a desordem, essa desordem instala-se em vós; quando contemplais a beleza e a harmonia, tornai-vos belos e harmoniosos... É uma lei mágica.
O que se passa há anos no domínio da arte vai contra a Natureza e chamam a isso "pintura abstracta", "música concreta"! Vejamos o caso da pintura: eu não sou contra as abstracções, mas será necessário representar seres humanos ou paisagens de modo desconjuntado? Nenhuma estrutura, linhas bizarras em todos os sentidos e cores lançadas ao acaso; é irreconhecível, tudo parece votar ao caos.

(Florinda Rosa Isabel)

















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