sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

A CADA UM, A SUA PELE!

Há dois dias, vinha a sair de um centro comercial e detectei um rabo de raposa pendurado por entre vários agasalhos. Ainda tive esperança de que fosse uma imitação e perguntei à jovem vendedora se era raposa verdadeira. Ela ficou entusiasmada, a garantir-me que sim e a afagá-lo, voltando a olhar para mim com aqueles olhos tão puros e inocentes, de quem estava feliz por ir vender um rabo real, não uma imitação.
Subitamente, parou de afagar os restos mortais da raposa e fitou-me, desalentada, não via nenhum entusiasmo por parte desta provável compradora que lhe ia salvar o dia, pois o negócio está fraco, são muitos a vender e poucos a comprar, principalmente em Janeiro, já que o gorducho vestido de vermelho convenceu a comprar muito pelo Natal e Ano Novo, para ir meter nas sacolas dos filhotes que estavam pendurados nas janelas e sacadas dos prédios desde os princípio de Dezembro, à espera que o velho e barrigudo Pai lhes levasse qualquer coisa, pois já tinham as forçar perdidas...
Eu pouco falei, não tinha o direito de importunar aquela jovem que só queria negociar, ganhar o seu sustento, talvez fosse empregada, não dona da bancada, sabia lá agora que a maioria das raposas são criadas já com essa finalidade e esfoladas vivas, para a pele ficar com mais qualidade. Depois, para ela, tal como para mim na sua idade, as peles das raposas são obtidas através das caçadas, quando se reproduziam em excesso e vão às capoeiras matar as galinhas lá nas aldeias. Portanto, já não sofrem quando são esfoladas.
Abordei o assunto de forma ligeira, ela escutou-me, ficou muito surpreendida quando eu lhe disse que todos nós temos a nossa pele e há agasalhos para a cobrir, não precisamos roubar a pele a nenhum animal.
Não pude semear mais, apenas uma pequena sementinha e, como ela deve estar a verificar que já quase ninguém usa peles, exceptuando as famosas do mundo do espectáculo e essas vão aos estabelecimentos de luxo, não a bancadas de corredor em centros comerciais, talvez acabe por desistir. E outras farão o mesmo.
Florinda Rosa Isabel

Sem comentários:

Enviar um comentário