TORCICOLO
O gato vadio com cio espreitou pela janela
do rés-do-chão para obter confirmação:
Lá estava o calendário pendurado, exibindo
um corpo pelado. "Oh sorte!", pensou o felino,
a antever o mimo duma noite bem passada
a amar_ era Janeiro, tinha de miar!
O gato vadio tinha brio, pobreza tem dignidade
e um gato vadio em Janeiro é dono da cidade!
O gato ergueu cabeça e calculou quantos
andares teria de trepar para chegar ao cume.
Sentiu azedume: era muito alto, visto do asfalto.
Mas era preciso estar por cima, ao menos só em
Janeiro que fosse. E alegrou-se! Ia trepar
lentamente por outras coberturas até atingir
a altura, como qualquer trabalhador que não
tem 'protector'... e o gato sentiu dores:
torcera o pescoço, o tolo, e ficou com torcicolo.
Trepou... gemeu... doeu... mas o cimo alcançou!
O gato vadio, agora com torcicolo no pescoço,
porque torceu, miou e uma gata apareceu.
Mas o gato não tinha ido ao "endireita" e
miava para a esquerda e olhava para a direita.
Até que um rato roedor foi muito observador:
"Ó figura paralítica, você pensa entrar na política?"
Do livro de Sátiras: «Ui! Que Língua!» de Florinda Rosa Isabel (Florinda Isabel)
Publicado em Maio de 1996. Edição de Autor.
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