segunda-feira, 2 de outubro de 2017

OS URUBUS E O JAZIGO...

Desde que me conheço no mundo que me habituei a ver jazigos no cemitérios.  E achava aquilo muito natural.
Porém, depois de tentar analisar os porquês da existência de jazigos, não consigo encontrar nenhuma lógica  na sua existência, uma vez que a Terra é para os vivos, não para os mortos.
Se cada família que tem vivido na Terra desde que esta existe mandasse construir um jazigo, já não havia espaço algum para os vivos viverem!
As famílias ricas começaram por pretender perpetuar-se através do apelido bem encaixado no mármore, sem pensarem, sequer,  no que ali estaria anos depois se acaso alguém tentasse rever os seus falecidos...  Mas isso não lhes importava, tinham dinheiro, podiam comprar o terreno onde seus entes queridos iriam ficar para sempre.
Pura ilusão! Decorridos alguns anos, até a ossada está desfeita. 
Tive conhecimento de que existem jazigos, nos quais as coisas têm corrido mal, desde o início, com urnas que talvez não tivessem sido chumbadas em condições e começaram a verter líquido; mais  o problema de os familiares, por vezes,  viverem muito afastados, até noutros países, mas sentem-se no dever de cuidar  do jazigo, conforme os mais próximos vão falecendo. E se não encontram quem cuide do jazigo, mesmo pagando, começa a ser complicado... Ao final de várias gerações, quando já ninguém se lembra de ninguém, o jazigo começa a deteriorar-se, ninguém aparece para a restauração,  as autarquias lá vão fazendo o que podem, mas, chega-se a um ponto, em que, decorridas muitas gerações, é um monte de ruínas inúteis, mas tem de têm de ser respeitadas pelas autarquias.
Hoje, considero um jazigo uma forma de apego, cujas consequências "amarram" familiares ao compromisso de ir cuidar deles, limpá-los,  muitas vezes já com  algumas dificuldades, quando, afinal, já não está nada lá dentro.
Depois, decorridas duas ou três gerações, que significado terá ele para  as que vão chegando e partindo, por  esses séculos fora?
São apegos que começaram a ser criados por aquelas famílias que se julgavam superiores   às outras e que pretendiam,  devido às suas posses económicas, comprar o local que seria a sua última morada na Terra, construindo uma pequena moradia.
Recentemente, também assisti a uma conversa entre pessoas que conheciam  uma família que estava em partilhas de bens herdados, mas ninguém lá se entendia, devido a um jazigo, já muito degradado. Pelo que pude ouvir, os herdeiros comportavam-se como urubus, todos pretendiam  a sua parte nos restos do que lá houvesse... 

Florinda Rosa Isabel   

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