Teoria do Campo-Caminho Unitário - Vol. IV - 12 de Janeiro
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Caros Amigos,
Como habitualmente às 3ªs. feiras, voltamos com a partilha do texto selecionado aleatoriamente, e o livro selecionado foi «TEORIA DO CAMPO-CAMINHO UNITÁRIO - VOL. IV - DA RACIONALIDADE ORGÂNICA - ascese religiosa e ascese científica, a metodologia orgânica e a ciência», de Fernando Pereira Nogueira, inserido na Colecção "Saberes".
Parte do 5º. Capítulo: A CIÊNCIA ORGÂNICA E A «TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO» (páginas 97 a 104 )
À luz da estrutura isomorfa do processo evolutivo formulada no primeiro volume desta teoria: – o Nada, seria o extremo absoluto do processo infinito da análise-bipartição, o seu resultado final em absoluto, o limite absoluto do Movimento no sentido do Múltiplo; o Todo, seria o extremo absoluto do processo infinito da síntese-integração, o seu resultado final em absoluto, o limite absoluto do Movimento no sentido do Uno. E tendo colocado, então, o Nada e o Todo nos extremos (para sempre adiados, eternamente em devir...) absolutos do binómio contraditório bipartição-integração, respondemos de um modo claro, conciso e simples, até pela formalização matemática do processo, a montanhas de papéis que se têm escrito em tom filosófico especulativo sobre este tema dito metafísico (e que é efectivamente meta-físico no sentido etimológico rigoroso do termo) do Absoluto. E a qualquer outro nível, o Absoluto continuará sempre a funcionar como o limite para que determinado processo evolutivo tende, por aproximações, infinitamente. Pelo que o Absoluto nunca poderá existir cientificamente senão como Mito (termo que, repetimos, nunca é sinónimo de falso no quadro desta teoria; antes, veicula o sentido de Inteligível em Platão, ou de Brahman no Hinduísmo Esotérico, afinal, o Imanifestado). Cientificamente, só poderemos definir o Absoluto como projecção Trans-Histórica de um processo infinito e apresentando-se, então, como o seu limite Mítico. Assim, cientificamente, não podemos considerar qualquer espécie de entidade concreta absoluta no plano da Essência Real, salvo, diríamos, que todo o processo evolutivo é absolutamente infinito, em devir... eternamente. A eternidade. A eternidade é também uma forma de infinito. De infinito temporal. A eternidade por que os cristãos também definem a Deus. Mas que espécie de infinito? E que espécie de tempo? O tempo concebido unidimensionalmente à luz do conceito cronológico e que foi culturalmente engendrado, ou o tempo intrínseco das coisas e, portanto, consubstancial à natureza? (À problemática do tempo foi dedicado todo o capítulo «As “dimensões” do tempo», no primeiro volume desta teoria.) Cronos ou cairos? A eternidade concebida numa perspectiva cronológica, no sentido de uma duração infinita, adquire o carácter de uma categoria mecanicista apriorística, a pretensão de um absoluto ex-maquina. Este é um conceito absurdo de uma eternidade assim concebida numa perspectiva extranatural. No contexto do universo cristão, esta concepção de eternidade é paralela ao processo da própria estrutura epistemológica mecanicista em ciência. Ora, o tempo real, e a eternidade real definida como um infinito temporal, é o tempo intrínseco das coisas, cairos, o tempo consubstancial à natureza e que, naturalmente, nunca poderia existir num vazio espacial. Mas a realidade da natureza concreta, e assim também o tempo real, não é sempre finita a cada momento? Claro! No entanto, a matéria, ainda que sempre finita a cada momento, é indestrutível, é infinita em devir..., até pelo efeito de Ressonância. (À problemática do efeito de ressonância foi dedicado todo o capítulo «A Ressonância», no primeiro volume desta teoria.) E tudo acaba por ser eterno na sua eterna transformação. Assim, a infinitude, está já contida, pelo menos em potência, na finitude da realidade objectiva concreta. O conceito de eternidade que se define pelo infinito temporal consubstancial à natureza, portanto, a ideia de eternidade que se constrói infinitamente (até, já que mais não fosse, pelo efeito de ressonância), e que, assim, não representa mais um absoluto mecanicista ex-maquina, está bem patente em sentido comum neste aforismo popular (são os Iniciados que inculcam estes Provérbios Sapienciais na memória colectiva dos povos) da língua portuguesa: – «De hora a hora Deus melhora!». Está aqui bem significada a construtividade. A construtividade também implícita no conceito de eternidade definida no quadro da dialéctica do finito e do infinito. Da eternidade por que, seja nesta perspectiva que de algum modo é também a perspectiva que a chamada terceira revolução teológica está implementando no seio do cristianismo, seja na perspectiva mecanicista ainda dominante na Igreja, os cristãos também definem, a Deus. Temos, então, que o conceito de eternidade que a chamada terceira revolução teológica de algum modo tenta implementar é conforme ao que a Teoria do Campo Unitário veicula, o conceito de eternidade definido na relação do finito e do infinito sintetizado na Lei Unitária. Lei Unitária que vai também ao encontro do conceito orgânico de Deus no Evangelho de S. João – o Verbo, a Palavra (Vibração), a Lei. (E a Teoria do Campo Unitário acaba dando cunho científico ao essencial dos conceitos cristãos e bíblicos em que, assim, a ciência e a religião se possibilitam confluir. Aliás, é claro que a Bíblia, como também a Tradição Esotérica em geral, veiculam um conteúdo informacional rigoroso, ainda que sob uma forma simbólica. Um conteúdo rigoroso, mas veiculado multiformemente através de Mitos, símbolos geométricos, expressões sintéticas Sapienciais, parábolas, etc., etc.. Ora, a Teoria do Campo Unitário retoma essa informação e estrutura-a formalmente, cientifica-a, processa-a cientificamente. Porque não há conteúdos científicos e não científicos, há-os é formalizados cientificamente ou não.) E a verdade é que a Lei Unitária Última (a Lei Unitária no seu limite Mítico, já que só nos é dado conhecê-la em estádios relativos, sendo que também a perfeição da Face Cognoscível e Criadora de Deus é o limite Mítico de um processo de eterna construtividade) se caracterizará pelos mesmos atributos de Deus – a Omnisciência, a Omnipotência, a Omnipresença; e a eternidade. Também o atributo da eternidade, mas definido na relação do finito e do infinito e não numa perspectiva mecanicista de absoluto ex-maquina, a eternidade concebida como o infinito temporal consubstancial à natureza (cairos), e não como o infinito temporal extranatural (cronos), mecanicista pretensamente absoluto. Aliás, o conceito mecanicista de absoluto funciona sempre como uma categoria meramente de recorrência lógica, como uma simples categoria justificadora daquele carácter mitológico e transcendental de causa última mecânica exterior ao sistema. A ideia de absoluto, funcionando como categoria de recorrência lógica, corresponde de algum modo a uma necessidade psicológica de encontrar um limite qualquer susceptível de, quiçá, apaziguar o sofrimento da ignorância. Aliás, o absoluto é sempre irrepresentável senão sob uma forma algo simbólica, porque inexistente senão como Mito. E o Mito acaba funcionando como uma espécie de “polo gravitacional” mobilizador (daí, o papel essencial e insubstituível que o Mito desempenha na humanização e divinização do homem; ou a calamidade espiritualmente mortífera em que redundou a destruição dos Mitos nas nossas sociedades decadentes, e ainda pior a sua substituição por esse desumanizante lixo mitológico de consumo...) projectado no plano da Essência Absoluta, e constituindo a derradeira tentativa de representar de alguma maneira o irrepresentável, isto é, o que até pela sua hipotética transcendência só poderíamos ousar compreender num espaço Trans-Histórico. O próprio conceito de Deus definido no quadro epistemológico mecanicista, e funcionando, portanto, como categoria de recorrência lógica, só vale como Mito, isto é, vale o que vale o Mito como “polo gravitacional” sublimador ou mobilizador de insatisfação objectivada. Todas as concepções mecanicistas segregam um espaço sacralizado que funciona como morada de um absoluto. Esse espaço sacralizado e o seu habitante são exteriores ao sistema, mas concebidos como sua força potenciadora – o deus mecânico, qual motor fora de bordo. Porque todas as concepções mecanicistas delimitam o conhecimento em espaços fechados que, naturalmente, subproduzem um espaço transcendental desconhecido, irrepresentável, sacralizável, sacralizado de facto. Ora, sempre que se delimita um espaço cognoscível, uma fronteira ao conhecimento, subproduz-se um “lado de lá” metafísico mecanicista, um espaço absolutamente trans-histórico pressupostamente incognoscível. Todas as teorias de raiz epistemológica mecanicista, ao apoiarem-se numa Invariante fomentam a idealização de um espaço sacralizado. Todas elas assentam na cartesiana «coisa certa e indubitável» à volta do que se fecham sobre si próprias, funcionando de facto em circuito fechado. Dentro deste espaço o conhecimento é apercebido como um dado, o que dá azo ao estabelecimento de uma fronteira delimitadora que nos aparta de uma pretensa esfera transcendental incognoscível, sacralizada, sagrada. Mítica. Mas não é que a própria Teoria do Campo Unitário apresenta a Mitologia Pagã como uma Ciência Absoluta? Só que, no quadro do pensamento dialéctico-estruturalista orgânico o limite mítico é definido pela projecção do processo, digamos, do mesmo modo que projectamos o ponto de encontro de duas rectas paralelas no infinito. Ora, uma coisa é conceber um absoluto como limite mítico de um processo infinito; e outra coisa muito diferente é conceber um absoluto cortado do processo e, logicamente, incomunicável. Uma coisa é projectar um limite mítico que nunca se concretizará, que pressupomos desde logo inconcretizável, que concebemos claramente como uma projecção (e é assim que a Mitologia Pagã sempre foi concebida); e outra coisa muito diferente é conceber ou dar azo a que se conceba um transcendentalismo mecanicista, é subproduzir a crença irracional num espaço que é incognoscível logo por pressuposto. E quando projectamos o processo na Mitologia já se pressupõe a dessacralização de todos os espaços, ainda que os não possamos representar de momento. Os espaços porventura ainda não representáveis perdem pelo menos o carácter sacralizado. Afinal, nós definimos uma Essência Real conhecida e a conhecer (pressupomos a sua existência objectiva independentemente da nossa consciência dela), e definimos também uma Essência Absoluta, de carácter pressuposta e declaradamente mítico, sempre concebida como uma mera projecção da Essência Nominal, sendo esta de facto a que verdadeiramente demonstra a cada momento o estádio a que se guindou efectivamente o nosso conhecimento, e este o que representa o grau de aproximação relativa desta à primeira, da Essência Nominal à Essência Real. Enfim, nós pressupomos, e evidenciamo-lo claramente, que a nossa verdade, última de momento, ainda é relativamente falsa; enquanto as concepções de raiz epistemológica renascentista-mecanicista-positivista, mistificadoras pela sua própria natureza, pressupõem necessariamente que a falsidade do momento é já a última verdade e até a Verdade Última. Ora, nenhum espaço está aprioristicamente vedado à História. Onde a História ainda não chegou, chegará... O Trans-Histórico só é aceitável como Limite Mítico do Histórico. O absoluto só é aceitável com o pressuposto do seu carácter mítico. O limite mítico eternamente adiado de um processo sempre inteligido como infinito. Assim, todo o espaço é historicizável. Mas o espaço histórico dado não elimina a esperança, nunca retira validade ao esforço de ascese que perspectiva a sua própria superação, nem, portanto, nega, aos cristãos por exemplo, a justeza da sua atitude profética. Desde que essa atitude profética se entenda numa perspectiva de ruptura diacrónica-sincrónica com dado momento da História, e não de corte mecânico com ela. A ruptura pressupõe um mínimo de continuidade relativa, o corte mecânico pressupõe a fronteira intransponível entre o sagrado e o profano, o cognoscível e o incognoscível. Ora, aquilo que ainda nos transcende, não nos é necessariamente transcendental e para todo o sempre. E o próprio conceito de Deus é sempre e necessariamente um conceito histórico. Aliás, de acordo com o estádio de consciência dominante em cada época engendra-se o correspondente conceito de Deus. E a concepção de um deus maquinista, qual motor fora de bordo cortado do sistema, corresponde claramente à afirmação do mecanicismo em ciência. Mas não é esse o conceito orgânico de Deus no Evangelho de S. João. O Deus de S. João, o Verbo, a Lei, é já consubstancial à natureza, é a própria Lei indissociável da natureza. Esse Deus, ou melhor, a sua manifestação Criadora, é a própria Essência do Cosmos no seu eterno devir... histórico. Ele não está do lado de fora do processo, é a própria Essência do processo. Não é um espaço sacralizado, intemporal, extranatural. E não é por mera casualidade que, paralelamente ao movimento da ciência (e no quadro da Teoria do Campo Unitário a Lei Unitária define-se como uma lei ela própria movimento, como consubstancial ao Movimento, em relação bi-unívoca Lei-Movimento), hoje, se está implementando na Igreja uma terceira revolução teológica. Uma revolução teológica que exige a “materialização” histórica de Cristo, ainda que, como não podia deixar de ser, numa perspectiva profética, em devir... infinitamente. É também o regresso progressivo (o regresso numa volta superior da espiral como início de novo ciclo) às origens bíblicas no seio da Igreja.
Até breve!
12 de Janeiro, 2016
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