O Voo da Ave - 14 de Julho, 2015
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Caros Amigos,
Como habitualmente às 3ªs. feiras, voltamos com a partilha do texto selecionado aleatoriamente, e o livro selecionado foi «O VOO DA AVE», de Teresa Durães, inserido na Colecção "Luz do Ocidente".
O CONSELHO (NA VOZ DE ANDERO) - Páginas 198 e 203
Tudo se ia alterar, era seguro, a partir do momento em que a vitória de Lobese estava certa. Até Terlis e Araco ficaram surpreendidos com o resultado. Somente nesse momento apercebi‑me que afinal Lucius dominava mais o povo do que pensávamos; a nova religião infiltrara‑ se discretamente nas mentes das gentes ao ponto do Conselho preferir um chefe que o guiasse baseado na nova fé e na capacidade que daria em obter a graça dos Suevos. Tinha sido o seu trunfo para conseguir que fosse o eleito. Ninguém conseguia prever quando os Suevos iniciariam a sua aproximação às Montanhas, apesar de estas não serem apetecíveis por serem demasiado densas para conquista e não tinham os prados férteis das planícies. No entanto, por vezes soldados atacavam as muralhas e era necessário estar sempre de prevenção, sendo inúmeras as vezes em que escaramuças aconteciam. Até ao momento tínhamos aguentado bem a nossa defesa sem perder muitos homens mas não se podia dizer que estávamos seguros. Os saqueadores e desertores dos exércitos também tentavam a sua sorte connosco mas esses eram homens sem uma organização capaz como um exército tinha. Os Castros sabiam que necessitávamos de manter a nossa Quem quereria tornar‑ se seu servo? Mas oferecer o nosso populi às mãos de Lucius nunca seria uma decisão sensata. Será que não o viam? Não sei como foi possível o sol cruzar o céu sem que me apercebesse deste concluo e nos resultados nefastos que teríamos. Estava cego, acreditava na generosidade de todos mesmo sabendo da ambição desmedida que Lobese sempre mostrara. Terlis sempre fora puro e, por isso, derrotado. Os Deuses pareciam que se afastavam lentamente e ninguém tinha força para contrariar. Nem eu, Andero, que estudara com Cabura, fizera seja o que fosse para ler os desígnios. De novo provava a mim mesmo o fracasso que era e percebia que nunca poderia liderar enquanto a minha visão estivesse tão cega perante todos e tudo. Não sei porque Cabura acreditara em mim até ao final mas somente podia reconhecer as minhas falhas enquanto líder. Enquanto guerreiro. Enquanto homem. O meu líder fazia‑me tanta falta e cada vez mais sentia que não estava preparado para seguir o seu exemplo. Tinha a vida do meu povo na minha mão e falhara como chefe, desapontara quem ainda tinha confiança em mim. Via‑ o nos olhos de Elan, o meu guerreiro mais próximo. Terlis tentou animar‑me quando desabafei com ele. Gracejou mas sabia que as suas palavras eram mais verdadeiras do que ele acreditava. O meu desassossego interior e a minha impulsividade desacreditavam‑me e reconhecia que nem eu, tão pouco, conseguiria seguir um chefe assim. Toda a paciência que Cabura tentara incutir‑me não passava de uma sombra da aprendizagem que fizera. Cabura não falhara, eu falhara. Aceitei o resultado com a obediência com que fui criado. Contrariado. De novo, a criança num corpo grande e forte. Terlis era o que levantava mais a voz perante o resultado mas nada havia a fazer. Claudii e Vetio fechavam os punhos tal era a a sua ira. Araco resmungou discretamente mas, tal como o fizera no conselho, encolhera os ombros e começou a preparar‑ se para uma nova era. A era desconhecida para onde avançávamos a passos largos. Apercebi‑me que Marcian e Labeo não se tinham conformado do mesmo modo mas era sua obrigação aceitarem as ordens do seu chefe. Somente os homens de Lobese partilhavam e sentiam‑ se felizes com o resultado. O seu Castro tornava‑ se de novo o mais importante e era desanimador para quem seguira fielmente Cabura e ver‑ se entregue a Lobese. Duatri, afastado das suas funções de guerreiro, não mostrava satisfação mas permaneceu em silêncio ao observar os restantes da sua tribo. Não conseguiriam distinguir as transformações ou estavam todos tão cegos? Saímos da Casa do Conselho. Era necessário preparar as comemorações do novo líder onde haveria um banquete e jogos; os oráculos teriam de ser lidos para que as tradições fossem cumpridas. E esse papel cabia-me. Iria ouvir dos Deuses o acerto na escolha? Encolhi‑me. Por momentos apercebi‑me que talvez a sua vontade não fosse igual à minha e mais uma vez sentiria o desajuste em que me encontrava. Na realidade não conseguia, por mais que tentasse, não conseguia mesmo ver que Lobese fosse o líder que precisávamos mas tinha obtido apenas vitória graças a manobras pouco visíveis. A noite aproximava‑ se e começara a temer o surgimento de controvérsias entre os quatro Castros. Era visível que a atmosfera estava carregada, lia‑ se nas feições de muitos o desagrado na escolha de Lobese e poderiam, no decorrer dos jogos de mestria, surgir exaltações dos guerreiros resultando numa contenda aguerrida. Deveríamos estar preparados para, caso fosse necessário, exercer uma mão de ferro para controlar os ânimos. A escolha fora feita, os Deuses seriam chamados e o populus teria de acatar. Tudo o mais era um futuro incerto e cheio de ambiguidades que mais tarde surgiriam. O meu juramento de obediência ao novo líder seria realizado perante o meu povo, obrigando‑os a seguirem o exemplo. Para minha vergonha e sob o olhar dos meus guerreiros. Camal no seu novo mundo deveria estar desgostoso. Fosse a sua alma condutora dos meus actos, esse meu guerreiro e amigo paciente. Fui falar com Terlis e alertá‑ lo para que ficasse de olho nos seus homens. Planeámos que Vetio e Claudii eram de grande confiança para efectuar guarda aos restantes. Elan, mesmo jovem como era, faria o que dissesse. Vi a mulher de Cabura junta com outras tantas a preparar o banquete. Admirei a sua força de espírito. Tinha sido a primeira das mulheres a ir prestar homenagens a Lobese. De cabeça erguida, passo firme, aproximou‑ se e jurou dedicação enquanto liderasse o povo do mesmo modo que Cabura o fizera. Inteligente mulher, suspeitando dele só lhe dera o voto de garantia enquanto os costumes fossem respeitados. Assim, nunca a sua honra seria posta em causa. Cabura tivera ali uma excelente companheira de vida. Nem na morte o fazia esquecer. Quando a noite chegou, Lobese aproximou‑ se com as suas armas, conforme ditava o costume. Todo o populi estava reunido e as grandes fogueiras acesas. Lucius e os monges encontravam‑ se presentes, sentados como convidados de honra. Lucius ao lado de Lobese enquanto Apana, de ar radiante e superior, sentava‑ se no outro lado. Suspeitava que os homens da nova fé presenciassem a cerimónia mas nunca supusera que Lobese os destacasse tanto e, sem querer, soltei uma exclamação de indignação que rapidamente reprimi. Quase perdia o controlo e não poderia acontecer. Dependente das acções dos diversos chefes, assim a cerimónia iria decorrer mas, por maior esforço que fizesse, a expressão do meu rosto não escondia a repugnância daquela situação insólita. Não era o único. Olhares inquietos fixavam‑nos. Tal acto era uma afronta. Aleba, como viúva do antigo chefe, tinha direito a um lugar central, condigno. Em vez disso, estava sentada ao lado de Cadia, juntamente com as restantes mulheres do seu Castro, sem usufruir de qualquer destaque da sua posição como viúva do antigo líder. Lobese desmarcara‑ a propositadamente tomando o controlo completamente sozinho. Tinha a certeza que, se pudesse, faria o restante com os chefes dos outros Castros mas talvez as nossas armas o intimidassem. ... um rasgo de ira trespassou‑me, fechei o punho e deixei que passasse... Terlis avistou e saudou‑me. Atrás dele, o sempre fiel Claudii, juntamente com Veto. Araco do outro lado também cumprimentou‑me discretamente. Já Marcian não escondia o que sentia, a sua expressão era feroz e pouco amigável. Laebo estava lado a lado com ele de feição fechada. Para os guerreiros que tantos momentos estiveram juntos nas batalhas, escaramuças e encontros com o inimigo, defendendo a sua honra e tradição, guiados por um homem sábio que nunca abandonara ninguém, não era fácil ver substituído o seu líder por alguém em quem não conseguiam confiar. Todos reunidos. O oráculo deveria ser executado antes da refeição. Lobese deveria dar início ao momento como competia a um Chefe. Cabura executava‑o mas ele não tinha essa capacidade e somente eu poderia, fracamente, continuar essa função. Esperei. Esperávamos. A fogueira ardia, as sombras dançavam nos rostos mal iluminados. Os olhos em expectativa.
Até breve!
14 de Julho, 2015
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