ESTÁ DOENTE, O RIO TEJO... TODOS
SOMOS CULPADOS!
Como sempre, quando algo está
mal, todos se queixam, mas ninguém aceita uma parcela na responsabilidade. Para
chegarmos ao principal motivo, teremos de recuar muitíssimos anos, para
compreendermos o porquê de ter desaparecido aquela beleza única, como o conhecíamos,
de águas límpidas, onde tantos peixes nadavam e saltavam, felizes!
Ora recuemos...
Há sessenta e três anos, quando
cheguei à Ortiga, após a aposentação do meu Padrinho, do seu emprego nos
Bombeiros, em Lisboa, não havia eletricidade nem água canalizada. Quase todas
as famílias tinham um burro, uma cabra, uma capoeira com algumas galinhas e
criavam um porco. Saíam muito cedo de casa e iam cultivar as hortas. E nós
começámos nossa nova vida familiar também assim. Era nos tanques das hortas que
lavávamos a roupa da família. Quem não tinha essa possibilidade, ia para as
ribeiras, ensaboava a roupa com sabão azul e branco e colocava-a ”corar”
(exposição prolongada ao sol).
Os "sanitários" eram
nos quintais, em madeira, as pessoas iam juntando ao estrume dos animais,
quando secava, e era o alimento das hortas. Não se utilizava adubo químico. Com
a chegada da eletricidade, muita coisa mudou.
O progresso também chegou aos
lares, com a água canalizada... De alguns anos para cá, compraram-se máquinas
de lavar roupa, a loiça não mais foi lavada na rua, num alguidar e com sabão...
Tanto para a roupa como para a loiça, existem vários produtos, e bem
agressivos. O banho semanal, dentro dum alguidar, com várias panelas de água
aquecida quase sempre na fogueira de lenha, e o sabão azul e branco, que
deixávamos arrefecer para aproveitar para regas, deram lugar aos banhos
diários, onde muitas pessoas utilizam “porcarias” perfumadas, agressivas para a
sua saúde e para o ambiente. E lá vai tudo para o TEJO
Muitas pessoas começaram a
canalizar, por baixo do chão, as águas das suas propriedades distantes para
outras que possuíam junto das suas casas, passando a cultivar estas. Claro está
que o cultivo mais próximo do Rio e com os químicos modernos, super-agressivos,
não é nada benéfico para este.
Começou a haver proibições
relacionadas com a criação de porcos, enquanto os matadouros e vários talhos
abriam no concelho. E, do porquito, que outrora era salgado, dividido por toda
a família e durante todo o ano, passou-se para um regabofe constante, fartazanas,
barrigadas de carne!
E como deixaram de precisar do
burro e não podiam criar porcos, os adubos químicos começaram a ser usados em
todas as culturas… As chuvas, as regas, vão arrastando tudo e… Aguenta-te TEJO!
Quando eu cheguei à Ortiga, nem
havia papel higiénico. Algum jornal que conseguíamos era cuidadosamente cortado
e pendurado no “sanitário” do quintal. Actualmente, com as fantochadas das
flores de papel colorido, pelos festejos de Verão, a “taparem” o sol, com a
ganância de alguns comerciantes, com carradas de folhetos publicitários a
encherem as caixas de correio, e muitos outros desperdícios de papel nas
repartições públicas, toda a indústria que o fabrica e vende, aproveita, claro!
Depois, matéria-prima não falta!
No tempo das águas límpidas do
Tejo, raramente se plantavam eucaliptos, pois todos nós sabemos que, a eles,
nunca falta a água, eles estendem as raízes até onde ela estiver e sugam-na
toda! Mas como é uma árvore que cresce depressa, dá muito lucro para vender à
indústria, ao contrário do modesto pinheiro que espera pacientemente que os
anos passem por si até se tornar adulto.
Mas o bicho-homem pretende ver o
lucro rápido, para, segundo alguns afirmam, poderem ajudar os seus filhos: nem
pensam que estão a contribuir no roubo do oxigénio dos seus netos. Assim, a
indústria implantada junto do Tejo, vai tendo alimento… E o alimento dela, tal
como acontece com o alimento dos humanos, se entra por um lado, tem de sair
pelo outro… Aguenta-te TEJO!
Depois, os Parques de Campismo,
as Praias Fluviais e outras modernices que tais… E a Motonáutica, a poluir o
plancto, que é a alimentação dos pobres peixes que, segundo dizem, se tornaram
com mau sabor. Muitos deles aparecem mortos, amontoados aqui e acolá.
Eu fiz, apenas, referência ao
concelho que conheço, deduzindo que seja geral, até à nascente do Rio. Então, devemos
calcular por que ele está doente…
Vamos ser menos consumistas e dar
mais valor à natureza? Sim, a natureza vale muito mais do que o lixo que
produzimos, para fantochadas, como os bonecos vestidos de vermelho que teimam
em trepar às janelas, quando se aproxima o Natal! Vamos aproveitar o papel e os
lacinhos das prendas de uns anos para outros? Vamos respeitar as flores e
apreciar a sua beleza ao natural, não mortas debaixo dos nossos pés,
transformadas em passadeiras aquando festividades? Se é para honrar a Deus,
talvez fosse altura de nos interrogarmos se Ele não apreciaria mais que
deixassem essas suas criaturinhas lindas vivas, ao invés de as matamos e
espezinharmos…
Não sei se ainda existe algures,
mas havia, ou fotografia ou vídeo (não posso precisar), do saudoso Padre Sousa,
a desviar-se, para não passar por cima das flores da passadeira, numa
procissão, em Ortiga.
(02/02/2017)
Florinda Rosa Isabel
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