quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

MEU ARTIGO NO JORNAL "VOZ DA MINHA TERRA"/FEVEREIRO, DO CONCELHO DE MAÇÃO_PORTUGAL.

ESTÁ DOENTE, O RIO TEJO... TODOS SOMOS CULPADOS!
Como sempre, quando algo está mal, todos se queixam, mas ninguém aceita uma parcela na responsabilidade. Para chegarmos ao principal motivo, teremos de recuar muitíssimos anos, para compreendermos o porquê de ter desaparecido aquela beleza única, como o conhecíamos, de águas límpidas, onde tantos peixes nadavam e saltavam, felizes!
Ora recuemos...
Há sessenta e três anos, quando cheguei à Ortiga, após a aposentação do meu Padrinho, do seu emprego nos Bombeiros, em Lisboa, não havia eletricidade nem água canalizada. Quase todas as famílias tinham um burro, uma cabra, uma capoeira com algumas galinhas e criavam um porco. Saíam muito cedo de casa e iam cultivar as hortas. E nós começámos nossa nova vida familiar também assim. Era nos tanques das hortas que lavávamos a roupa da família. Quem não tinha essa possibilidade, ia para as ribeiras, ensaboava a roupa com sabão azul e branco e colocava-a ”corar” (exposição prolongada ao sol).
Os "sanitários" eram nos quintais, em madeira, as pessoas iam juntando ao estrume dos animais, quando secava, e era o alimento das hortas. Não se utilizava adubo químico. Com a chegada da eletricidade, muita coisa mudou.
O progresso também chegou aos lares, com a água canalizada... De alguns anos para cá, compraram-se máquinas de lavar roupa, a loiça não mais foi lavada na rua, num alguidar e com sabão... Tanto para a roupa como para a loiça, existem vários produtos, e bem agressivos. O banho semanal, dentro dum alguidar, com várias panelas de água aquecida quase sempre na fogueira de lenha, e o sabão azul e branco, que deixávamos arrefecer para aproveitar para regas, deram lugar aos banhos diários, onde muitas pessoas utilizam “porcarias” perfumadas, agressivas para a sua saúde e para o ambiente. E lá vai tudo para o TEJO
Muitas pessoas começaram a canalizar, por baixo do chão, as águas das suas propriedades distantes para outras que possuíam junto das suas casas, passando a cultivar estas. Claro está que o cultivo mais próximo do Rio e com os químicos modernos, super-agressivos, não é nada benéfico para este.
Começou a haver proibições relacionadas com a criação de porcos, enquanto os matadouros e vários talhos abriam no concelho. E, do porquito, que outrora era salgado, dividido por toda a família e durante todo o ano, passou-se para um regabofe constante, fartazanas, barrigadas de   carne!
E como deixaram de precisar do burro e não podiam criar porcos, os adubos químicos começaram a ser usados em todas as culturas… As chuvas, as regas, vão arrastando tudo e… Aguenta-te TEJO!
Quando eu cheguei à Ortiga, nem havia papel higiénico. Algum jornal que conseguíamos era cuidadosamente cortado e pendurado no “sanitário” do quintal. Actualmente, com as fantochadas das flores de papel colorido, pelos festejos de Verão, a “taparem” o sol, com a ganância de alguns comerciantes, com carradas de folhetos publicitários a encherem as caixas de correio, e muitos outros desperdícios de papel nas repartições públicas, toda a indústria que o fabrica e vende, aproveita, claro! Depois, matéria-prima não falta!
No tempo das águas límpidas do Tejo, raramente se plantavam eucaliptos, pois todos nós sabemos que, a eles, nunca falta a água, eles estendem as raízes até onde ela estiver e sugam-na toda! Mas como é uma árvore que cresce depressa, dá muito lucro para vender à indústria, ao contrário do modesto pinheiro que espera pacientemente que os anos passem por si até se tornar adulto.
Mas o bicho-homem pretende ver o lucro rápido, para, segundo alguns afirmam, poderem ajudar os seus filhos: nem pensam que estão a contribuir no roubo do oxigénio dos seus netos. Assim, a indústria implantada junto do Tejo, vai tendo alimento… E o alimento dela, tal como acontece com o alimento dos humanos, se entra por um lado, tem de sair pelo outro… Aguenta-te TEJO!
Depois, os Parques de Campismo, as Praias Fluviais e outras modernices que tais… E a Motonáutica, a poluir o plancto, que é a alimentação dos pobres peixes que, segundo dizem, se tornaram com mau sabor. Muitos deles aparecem mortos, amontoados aqui e acolá.
Eu fiz, apenas, referência ao concelho que conheço, deduzindo que seja geral, até à nascente do Rio. Então, devemos calcular por que ele está doente…
Vamos ser menos consumistas e dar mais valor à natureza? Sim, a natureza vale muito mais do que o lixo que produzimos, para fantochadas, como os bonecos vestidos de vermelho que teimam em trepar às janelas, quando se aproxima o Natal! Vamos aproveitar o papel e os lacinhos das prendas de uns anos para outros? Vamos respeitar as flores e apreciar a sua beleza ao natural, não mortas debaixo dos nossos pés, transformadas em passadeiras aquando festividades? Se é para honrar a Deus, talvez fosse altura de nos interrogarmos se Ele não apreciaria mais que deixassem essas suas criaturinhas lindas vivas, ao invés de as matamos e espezinharmos…
Não sei se ainda existe algures, mas havia, ou fotografia ou vídeo (não posso precisar), do saudoso Padre Sousa, a desviar-se, para não passar por cima das flores da passadeira, numa procissão, em Ortiga.
(02/02/2017)

Florinda Rosa Isabel

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