TENHO SAUDADES (MUITAS!)
Actualmente, é uma grande aflição para algumas pessoas se não encontram papel higiénico a condizer com as cores dos azulejos ou do "equipamento" para os fins em vista... Tenho saudades (muitas!) dos pedacinhos de jornal estrategicamente enfiados num prego, mesmo ali a jeito de serem puxados...
Nos tempos que correm, muitas são as senhoras que entram em pânico se passam uma semana sem poderem ir ao cabeleireiro... Tenho saudades (muitas!) de quando eu ia mandar fazer uma "permanente" e pedia para ficar bem curtinha, porque só podia voltar lá daí a um ano. Motivo? Duas opções: «cortar nos mantimentos ou cortar nas guedelhas... Hoje, os pais vêem-se aflitos para continuarem a garantir a mesada dos seus "meninos", pois estes têm os seus compromissos com a malta... Assim, têm de tirar a si próprios para que ele continuem, felizes, de discoteca em concerto, embriagando-se, abanando o capacete e a mioleira, completamente surdos aos conselhos paternos, porque a música ensurdecedora dos instrumentos musicais e as vozes "berradas" dos cantores vai-lhes destruindo os tímpanos... Tenho saudades (muitas!) da época em que os jovens se deitavam cedo, para acordarem saudáveis e felizes, pois tinham de estudar ou trabalhar. Trabalhar, sim! Terminado o Ensino Básico, ou continuavam a estudar ou iam aprender um ofício: meninas, quase todas aprendiam costura, era profissão lucrativa, ainda não havia o pronto-a-vestir; rapazes_ sapateiro, alfaiate, marceneiro, electricista, pedreiro e afins... Ofícios em que tinham de pagar ao mestre, pois estragavam muito material até aprenderem o suficiente para começarem a receber. Quando os pais não podiam pagar, eles iam fazer uma horita ou duas como marçanos, a levarem as mercearias às senhoras que não queriam ou não podiam sair de casa. Eu, depois de aprender costura e bordados, fui de Lisboa para a província, após meu Padrinho se reformar. Entrei num «curso agrícola de família», minha mesada era garantida por uma «profissional do bota-ovo», que minha Madrinha me deu. Vendia seus ovos, Quando ela acabava o seu turno de postura e entrava de férias, não me serviam de nada as choradeiras (não tinha como comprar carta e selo para escrever ao namorado), porque não demovia a austeridade educativa da época sobre economia... «Poupasses no tempo da postura da galinha, já sabias que elas descansam, de vez em quando. Não andasses a comprar coisas sem utilidade nenhuma com o teu dinheiro, eu cá estou para comprar o teu enxoval em condições quando chegar a altura.» Actualmente, é de perder a paciência, quando estamos numa fila de pagamento na caixa de supermercado e um cliente está de carrinho cheio, mas com todos os seus cartões de crédito vazios... Lá tem de vir alguém resolver o problema... Tenho saudades (muitas!) de quando pagávamos tudo ao balcão e a dinheiro, nas mercearias de bairro: menos confusão, menos comida, menos possibilidades económicas, mais simpatia... Mas era o tempo em que a maioria dos pobres podia investir no património público... Nas pontes! «Senhor Joaquim, aponte aí, se faz favor...» E ele lá tirava o coto do lápis detrás da orelha e escrevia por baixo da já longa lista das compras do mês. Quando os "homes" recebiam, as mulheres iam pagar. Veio a notícia recente, muito comentada e muito revoltada nas redes sociais. Não cheguei a perceber em que país é, meu monitor anda a reclamar mais horas de descanso e, então, sai de serviço inesperadamente. Mas o caso é sobre uma lei que alguém pretende ver aprovada, que consta em não permitir que as vítimas de assalto reajam, porque as reacções têm sido tão violentas que alguns assaltantes já têm morrido... Tenho saudades (muitas!) do tempo em que as vítimas eram protegidas e, se acaso matassem em legítima defesa, para defenderem as sua vidinhas, não eram condenadas... Inverteram-se os valores. Hoje, as vítimas têm de se calar, deixarem-se agredir fisicamente, podem roubar seu dinheiro ou sua honra! Pois, se for violada, também se trata de um roubo, um roubo físico que pode trazer-lhe consequências posteriores, de gravidez ou doença venérea. Mas, sem reacção da vítima, fica salvaguardada a vida do malfeitor... Sim, tenho saudades (muitas!) de quando escrevia estes artigos na minha velhinha máquina de escrever, cujo teclado me soava tão familiar... Agora, está ali, tapada... Se ela pudesse falar, já me teria dito: «Fui tua colaboradora durante muitos anos, diz lá a verdade! Alguma vez te arreliei, como essa... essa "coisa" que veio tirar o meu lugar? Tu chegavas à secretária, fazias-me saltar a tampa e escrevíamos ambas... Agora, essa modernice é que te faz saltar a tampa de vez quando... Bem feito! Beijinhos e até Abril... Florinda Isabel |
terça-feira, 24 de março de 2015
MEU ARTIGO (JORNAL VOZ DA MINHA TERRA) MÊS DE MARÇO
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