terça-feira, 9 de agosto de 2016

«SANTOS DA CASA, ÀS VEZES, FAZEM MILAGRES...»

Eduardo Paz Ferreira
1 h
OBRIGADO AO CORREIO DOS AÇORES FEZ ME SENTIR QUE SANTOS DA CASA FAZEM MILAGRES
Eduardo Paz Ferreira volta aos escaparates das livrarias, agora com a obra “Por uma Sociedade Decente”, onde faz, segundo a Editora Marcador, uma análise apaixonada e empenhada dos fenómenos económicos, políticos e sociais que tiveram; lugar em Portugal e no mundo e que nos levaram até onde estamos hoje: uma sociedade injusta e quase caótica. É assim, necessário procurar novos caminhos, que também são apontados neste livro”.
Eduardo Paz Ferreira conta que se lhe perguntassem o que o levou a escrever este livro, “não teria dúvidas em responder que o escrevi pelo desgosto com muitos aspectos da sociedade actual e pela minha convicção de que é necessário construir uma sociedade decente. Este tem sido, de resto, o motivo porque tenho lutado, investigado e escrito nos últimos anos.
Creio que a sociedade decente, conceito especialmente tra- balhado pelo filósofo israelita Avishal Margalit para se referir às sociedades que não humilham os seus membros, é aquela que melhor descreve o ideal para que devemos apontar.
A primeira condição para termos uma sociedade decente é a de que cada um de nós tenha um comportamento decente. Não tenho, todavia, qualquer dúvida em reconhecer que esta é uma condição necessária, mas não suficiente, até porque, se não faltam estímulos aos comportamentos indecentes, eles rareiam quanto ao comportamento decente, que tende a passar despercebido.”
O autor refere que “frequentemente quem tenta pautar a vida pelas regras morais e éticas que caracterizam uma socieda- de decente é considerado um «trouxa». Palavras outrora nobres, como utopia ou idealismo, passaram a ser objecto de desvalorização geral, e quem persiste nessa via é visto como alguém que perde o seu tempo em vez de se juntar ao esforço comum de consolidação da ordem estabelecida. Criou-se um ambiente social brilhantemente descrito, para outro contexto, por Nelson Rodrigues, como o «óbvio ululante», em que todos dizem, ou devem dizer o mesmo, sob pena de serem marginalizados.
Não é, de facto, apenas na economia que se faz sentir o pensamento redutor e totalitário TINA — there is no alternative — que visa convencer-nos de que qualquer esforço de pensamento
novo é totalmente inútil, porque o caminho que se segue é o único possível”.
De um certo modo, explica Paz Ferriera, “trata-se de uma versão mais suave daquela que exprimia o Ministério Público fascista italiano ao pedir vinte anos de prisão para o intelectual marxista Antonio Gramsci, a fim de impedir que ele pensasse e escrevesse. Sabemos, em todo o caso, que a cadeia não foi um impedimento para Gramsci e que as Notas da Prisão ficaram como uma das mais interessantes reflexões produzidas pela esquerda europeia, servindo de inspiração ao longo das décadas”.
Nos últimos anos, refere o autor, “em Portugal como em todo o mundo, têm surgido reflexões de extraordinária qualidade e cada vez mais ouvidas, que vão lançando as bases para que haja alternativa. E certo que, continuando a recorrer ao pensamento gramseiano, o velho demora a partir e o novo a afirmar-se”.
Os últimos-quarenta anos - continua Eduardo Paz Ferreira - “trouxeram-nos uma profunda alteração de valores e padrões que nos conduziram à beira do abismo. Leonard Cohen, uma daquelas vozes que acompanhou as nossas vidas nas suas diferentes fa- ses, quando as coisas ainda não tinham atingido o estado actual, cantava já: «I’ve seen the future, brother. It is murder.»
E, pois, necessário, inverter o percurso que nos afastou da ideia de boa sociedade e do objectivo expresso pelos foundingfathers da independência dos Estados Unidos de que as sociedades politicamente organizadas têm por objecto a construção da felicidade.
Não é uma tarefa fácil a que nos aguarda, mas temos de partir do princípio de que ainda vamos a tempo de refazer os laços sociais
e criar as alianças necessárias para uma sociedade decente”.
Sublinha que “ao longo deste livro vamos ser confrontados com realidades, por vezes muito duras que, pelo menos em parte, conhecemos ou intuímos,e que nos demonstram que estamos longe do ideal da sociedade decente.
Outros acontecimentos demonstram-no não menos exuberantemente. A generalizada indiferença pelo drama dos refugiados, a que alguns, com grande destaque para o Papa Francisco, tentam opor- se, é talvez a maior vergonha com que nos confrontamos, mas não podemos esquecer a forma como nos desinteressamos do desenvolvimento económico nas áreas mais desfavorecidas do globo”, remata Eduardo Paz Ferreira.


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