Caros Amigos,
Como informámos, em cada terça-feira escolheríamos aleatoriamente um
livro, de onde também aleatoriamente sairia o texto que partilharíamos
através de newsletter. Hoje assim foi feito de novo e o livro "sorteado"
foi «SEMENTES DE FELICIDADE», de Mestre Omraam Mikhaël Aïvanhov ,
inserido na nossa colecção "Prosveta".
Páginas 121 a 131 - XII CAPÍTULO - O ESPÍRITO ESTÁ ACIMA DAS LEIS DO DESTINO
Todas as provações por que passais têm uma
razão de ser; deveis descobrir qual e, se o fizerdes
sinceramente, com o propósito de progredir, por
certo o mundo invisível, que não é fechado nem
cruel, dar‑vos‑á
as respostas. Ele pode mesmo
revelar‑vos
como, numa outra incarnação,
transgredistes as leis divinas e mostrar‑vos
que
recebeis essas provações em conformidade com
a justiça do alto, para vos compelir a reparar os
vossos erros. É claro que vós direis: «Mas porquê
desta forma? Essa justiça poderia vir docemente,
gentilmente, explicar‑me
com palavras amáveis e
carícias o que eu deveria fazer para me melhorar.
Eu não sou estúpido ao ponto de não compreender.»
Infelizmente, vós não vos conheceis. Sim,
quantas vezes as entidades celestes vieram explicar‑vos,
de todas as maneiras possíveis, que devíeis
ser mais conscienciosos, mais honestos, mais
pacientes, mais generosos, etc., e não entendestes
nada, não vistes nada, não compreendestes nada.
Então, agora, como vos mostrastes tão surdos,
cegos e limitados, precisais de levar uns abanões,
de ser um pouco queimados, um pouco picados,
um pouco mordidos. Foi por isso que a justiça
divina determinou que incarnásseis em condições
difíceis, nas quais tendes de sofrer para pagar
as vossas dívidas e aprender algumas verdades.
E deveis aceitar essa situação.
Aliás, se não a aceitardes, isso nada muda.
Ninguém pode escapar à justiça divina nem
contorná‑la.
Por isso, é inútil ir consultar os
astrólogos, como alguns fazem, para eles vos
prevenirem das perdas e dos acidentes a que estais
expostos. É inútil querer escapar, porque, o que
quer que façais, não evitareis nada. Ninguém
escapa ao seu destino por meio de artimanhas.
A única coisa que podeis fazer é trabalhar com a luz
a fim de, no dia em que essas provações chegarem,
terdes a possibilidade de as suportar melhor.
Sabeis, por exemplo, que ireis ter uma grave
doença: pois bem, levando uma vida sensata,
purificando e reforçando o vosso organismo,
preparais armas para lutar. Não tereis a possibilidade
de evitar a doença, mas, no dia em que ela
se declarar, podereis limitar os seus estragos. Esta
lei é válida em todos os domínios: os esforços
que fazeis para vos reforçardes e vos purificardes
permitir‑vos‑ão
sempre enfrentar as provas nas
melhores condições.
O destino não se deixa apiedar, mas nunca é
cruel; ele é justo, apenas isso. Todas as faltas que
cometestes vão acumular‑se
num prato da balança,
mas, se decidirdes corrigir‑vos,
tudo o que fizerdes
de bom irá pesar no outro prato. Então, quando
chegar o momento de pagardes pelas transgressões,
os vossos bons pensamentos, os vossos bons
sentimentos e as vossas boas ações intervirão para
que o pagamento seja menos pesado. Isto significa,
portanto, que também não há que tornar‑se
fatalista,
dizendo: «Visto que o meu destino é desta maneira
ou daquela, não há nada a fazer, há que aceitá‑lo.
» Não. Nunca esqueçais isto: o destino nunca
pede o aniquilamento e a extinção do espírito.
Pelo contrário, o destino está aí para nos obrigar
a despertar o espírito, a trabalhar com o espírito, a
fim de criarmos para nós um novo futuro.
Por causa das faltas que cometeu nas suas
incarnações anteriores, o homem está submetido
ao seu destino; os hindus dizem que ele tem um
“carma” a pagar. Mas isso não significa que ele não
pode reagir, porque aquele que se limita a submeter‑se
acaba, um dia, por ser esmagado. Pelo contrário,
ele deve combater com as armas do amor e da luz, a
fim de triunfar sobre o seu destino e ficar sob a ação
da Providência. Então, para o homem que chegou ao
ponto de viver na luz já não há destino. Ele mudou
de plano, as leis já não são as mesmas, ele saiu do
mundo da fatalidade para entrar no da graça.
A maior parte dos humanos, que tem ideias muito
vagas sobre este assunto, usam indiferentemente a
palavra destino para tudo o que lhes acontece na
vida, o bom e o mau. Não. Chamemos, se quiserdes,
"destino " as consequências da nossa ignorância,
das nossas faltas, e "Providencia " às consequências
da nossa luz e de tudo o que temos feito de bom.
Portanto, agora e claro: há sempre a Providência
para aqueles que vivem na luz e no amor divino e
há sempre o destino para aqueles que se obstinam
em continuar a ser limitados e maus. 1
Aquele que quer sair da ação do destino deve
começar por ver claramente as coisas: discernir
os pensamentos, os sentimentos e os atos que,
continuamente, tornam pesado o seu carma, e
trabalhar para se tornar mais sensato, mais puro,
mais altruísta. E assim que ele entra na região da
Providência, onde cria o seu verdadeiro futuro.
A parte algumas exceções extremamente raras,
jamais algum ser humano veio a terra sem ter faltas
a reparar, dividas a pagar. Quantos Iniciados,
santos e profetas não sofreram também para
reparar faltas que tinham cometido nas incarnações
anteriores! Isso não impedia a sua alma e o seu
espirito de viverem no esplendor divino, porque
eles trabalharam, trabalharam sem descanso,
apesar do seu carma, e tornaram.se
divindades.
O que quer que vos aconteça, deveis ter
sempre consciência de que existe em vós, numa
região inatacável, o vosso espirito. E ai que deveis
refugiar-vos
para trabalhar. Então, mesmo que
o carma vos assalte, vós sentir-vos-eis
acima,
sempre acima: o carma quer limitar-vos,
vós
libertais-vos,
ele quer mergulhar-vos
na sombra,
vos iluminais-vos...
porque, contra tudo e contra
todos, continuais o vosso trabalho. Sim, deveis
sempre procurar atingir esse ponto onde escapais
as regiões sujeitas ao carma.
A questão, agora, está em saber se conseguis
elevar-vos
ate aí, se sois capazes de ir estabelecer-vos
nessa região que se encontra para além
dos ventos, dos tornados e das trovoadas. Era
precisamente a essa região que Jesus se referia
quando aconselhava: Construi a vossa casa sobre
rocha!2 A rocha é a região do espírito, onde
devemos estabelecer a nossa morada, porque é o
único lugar que está ao abrigo das intempéries.
E também o "alto retiro " do Salmo 91: o plano
causal.3 Enquanto não tiverdes atingido essa região,
pelo pensamento e pela meditação, estagnareis nas
regiões inferiores do plano mental e do plano astral
e sereis vulneráveis, sereis presa dos tormentos.
Eu espero que estas poucas palavras esclareçam
mais a questão. Não podemos escapar ao carma,
mas podemos pagá-lo
de diferentes formas.
É como na vida: na maior parte das situações, paga-se
em dinheiro, mas há outros meios de satisfazer
as dividas, pode-se
trabalhar, dar um presente ou,
ainda, prestar um serviço... No plano espiritual, o
melhor pagamento consiste em acumular ouro, isto
é, em desenvolver qualidades e virtudes. Mas a
prece também e uma forma de pagamento, porque
na prece vós também introduzis ouro, tudo aquilo
que há de melhor no vosso coração, na vossa alma
e no vosso espirito. Vós arrependeis-vos
dos vossos
erros e prometeis repará-los
com as vossas boas
ações. Então, o Céu diz: «Se ele se arrepende, se
ele quer reparar, é porque compreendeu; aliviemos
as suas provações.» Porque? O que é que o Céu
quer? Que nos melhoremos. Ele não quer esmagar-nos;
para que lhe serviria isso? O seu desejo é que
nos tornemos mais conscientes, mais sábios; por
isso é que, se teimamos em não seguir essa via,
ele continua a enviar-nos
provações. Mas, se ele
vê que compreendemos sem ter de suportar todas
essas provações, isso basta-lhe,
ele nao faz questao
de nos aniquilar.
Ha muitos exemplos de pessoas que pagaram
as suas dívidas carmicas trabalhando para os
outros, sacrificando-se,
dando.lhes
o seu tempo,
as suas forcas, os seus pensamentos, a sua alma...
pois, lá por conhecermos esta lei do carma, não
devemos tomá-la
como um pretexto para ficarmos
indiferentes aos sofrimentos dos humanos.
Infelizmente, eu tenho constatado que, agora que
ouviram falar de carma, algumas pessoas que se
dizem espiritualistas, em vez de pensaram em
todos aqueles que sofrem e se decidirem a fazer
alguma coisa para os ajudar, limitam-se
a dizer:
«Oh, é o carma deles! » e não fazem nada. Se é para
terem boas razoes para ficar a marcar passo no seu
egoísmo, às vezes seria preferivel as pessoas nunca
terem ouvido falar de carma. Por isso, eu acho que
sempre é uma grande superioridade por parte dos
Ocidentais eles não ficarem sem fazer nada perante
as infelicidades dos outros. Vemos isso quando há
fomes, epidemias, inundações, tremores de terra:
eles organizam imediatamente socorros; e isso e
magnifico!
Na realidade, é preferivel que todos conheçam
as leis do destino, que compreendam por que lhes
acontecem certas infelicidades, a eles e também
aos outros, mas sem nunca deixarem de querer
ajudá-los.
Alguns dirão: «Mas porque ajudá-los,
se eles têm o que merecem? » Em primeiro lugar,
porque os esforços que se faz para ajudar os seres
nunca são inúteis: em certas circunstâncias, vendo
a vossa sinceridade, o Céu pode deixar-se
comover.
E depois, também por vós, para progredirdes.
Ajudando os outros, desenvolveis também alguma
coisa em vós mesmos. E o que eu respondo sempre
aqueles que me perguntam por que é que me ocupo
tanto dos outros; é porque sinto que isso me faz
bem, que isso age favoravelmente sobre mim.
É simples! Por que é que não fazeis o mesmo? Vós
é que ireis sentir-vos
melhor.
Se os outros beneficiarão do que vós quereis
fazer por eles e se salvarão, só Deus sabe. Eu
nao sou ingénuo ao ponto de não ver que é muito
dificil ser util. Muitas vezes, digo para comigo:
«Meu velho, julgas que é por teres passado horas
e horas a ouvir as pessoas contarem-te
os seus
problemas, os seus sofrimentos, e a falar com
elas para as consolar e lhes dar conselhos, que
elas irão ter em consideração o que lhes dizes e
seguir pelo bom caminho? Nao tenhas grandes
ilusões: a maior parte delas continuará, ainda por
muito tempo, a ir para onde são empurradas. Mas
continua, apesar disso, a ocupar-te
delas, porque tu
é que te reforças, tu é que te iluminas. E se elas não
quiserem trabalhar para o Reino de Deus, trabalha
tu: o Reino de Deus surgirá pelo menos em ti. »4
Se toda a gente pudesse pensar «egoisticamente »
desta maneira, seria formidável. Sim, há que
ser egoista, há que ser interesseiro! Direis vós:
«Como? Está sempre a recomendar-nos
que não
sejamos interesseiros e agora... » Na realidade, o
desinteresse absoluto nao existe. Existem somente
interesses diferentes: um interesse inferior,
material, grosseiro, e um interesse superior, divino,
sublime. Por isso, a unica questão importante para
vós e saberdes onde se encontra o vosso verdadeiro
interesse. Aquele que crê que o seu interesse está
em conseguir, a qualquer preço, resolver as suas
questões materiais, tornar-se
rico, poderoso e
glorioso, deve saber que chegará ao outro mundo
nu, pobre, miserável, feio, deformado. Ele não
conhece, pois, o seu verdadeiro interesse.
Compreendei vós também quão importante
é trabalhardes para o bem de todos: é assim que
pagais o vosso carma. Aquele que diz: «Ah! Eu não
sou estúpido! Nao farei nada pelos outros. Quero
aproveitar a vida, quero comer, beber, divertir.me...
» sentirá o carma abater-se
cem por cento
sobre ele de uma forma ou de outra; ele crê que é
esperto, mas, na realidade, é estúpido e ignorante.
É esta a utilidade da Ciência Iniciática, que nos
ensina a viver em conformidade com estas regras,
com estas leis, com estes métodos, a fim de, um
dia, nos tornarmos livres, fortes e felizes. Aquele
que não dá importância a esta ciência trabalhará
sempre contra o seu verdadeiro interesse.
Por isso, se tiverdes de passar por provações,
em vez de vos lamentardes e gritardes, apaziguai-vos,
refleti e questionai-vos:»
Qual e o plano
do Senhor e de todos os meus amigos celestes?
O que é que eles querem que eu obtenha? » Far-se-á
luz e vós compreendereis que eles querem que
vos torneis mais pacientes, mais resistentes, mais
inteligentes, ou uma outra coisa.5 Assim, não só
não vos revoltais, como ainda ficais reconhecidos
e agradeceis. E obtereis muito mais rapidamente
essas virtudes que o Céu quer impelir-vos
a adquirir.
Ouve-se
muitas vezes pessoas contarem que
foi graças a um acidente, a uma doença grave
ou a uma grande infelicidade que conseguiram
encontrar a sua verdadeira vocação ou mesmo a
sua salvação. No entanto, elas comecaram por crer
que tudo estava perdido e sentiam-se
desesperadas,
revoltadas. É evidente que certas provas são
terriveis e e impossível não sofrer. Mas, porque
nao havemos de pensar imediatamente que, um
dia, mais tarde, encontraremos, no final dessas
provas, a felicidade que nos espera? Porque perder
tanto tempo no desespero e na revolta?
Quaisquer que sejam as provas por que passam,
os Iniciados continuam a trabalhar, continuam na
luz, no bem, no amor, porque compreenderam
o essencial. Então, regozijai-vos
pelo facto de
conhecerdes este Ensinamento, regozijai-vos
e
agradecei por todas estas pedras preciosas, por
todas estas possibilidades que se abrem diante de
vós, diante do vosso espírito, para um trabalho
gigantesco. Sem esta luz, em que é que vos
tornaríeis?
Notas
1. Cf. A verdade, fruto da sabedoria e do amor, Col. Izvor
n.o 234, cap. XVIII: «A verdade tornar-vos-á
livres » .
2. Cf. «Et il me montra un fleuve d ´eau de la vie », Col. Synopsis, Parte VIII, cap. 2: «La maison sur le roc: le
pouvoir de la pensée».
3. Cf. «Au commencement était le Verbe», OEuvres complètes,
t. 9, cap. VIII: «La haute retraite».
4. Cf. Em espírito e em verdade, Col. Izvor n.º 235, cap.
XVII: «O Reino de Deus está em nós».
5. Cf. Aux sources inaltérables de la joie, Col. Izvor n.º 242,
cap. XII: «Les trésors insoupçonnés de la patience».
Até breve!
25 de Novembro, 2014
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