sexta-feira, 9 de setembro de 2016

CÓPIA DO ARTIGO QUE ESCREVI PARA O JORNAL VOZ DA MINHA TERRA, MAÇÃO, EM FEVEREIRO DE 2015


ESTOU MUITO TRISTE...
Aos leitores, que gostam de ler meus artigos, comunico que, provavelmente, este será o último artigo que escrevo e direi porquê.
Os activistas radicais no facebook costumam postar fotografias agarrados a ratos vulgares e dizem-se a favor da protecção de todos os bichinhos, incluindo baratas e outras espécies que tomariam conta da Terra se não houvesse controle. Eu escrevi um texto em que contava que os agricultores tem de se proteger, pois eles metem-se em seus celeiros, fazem criação e destroem tudo. Crianças já têm sido hospitalizadas por passarem as mãos sobre urina seca de ratos infectados. Ratos já têm roído bebés em barracas de gente pobre.
Não gostaram, "atiraram-se"a mim... Respondi com o texto seguinte:
«CÉU OU INFERNO?»
A dona Milocas era uma senhora muito crente e radicalmente a favor da conservação de tudo que mexesse sobre a Terra, pois tudo, para ela, era criação Divina.
Um dia, entrou-lhe pela janela uma barata voadora, ela ficou muito feliz, um "ser sagrado" tinha entrado no seu lar. A barata ficou muito satisfeita com o acolhimento, pois tinha acabado de sair de um divórcio litigioso, ali ficaria em segurança, para não ser agredida pelo seu "ex-barato". No dia seguinte, uma grande ratazana apareceu, também tinha acabado de sair de um relacionamento muito conflituoso, pois todo o queijo que ela levava para o buraquinho que lhes servia de lar, seu "ex" comia e levava para as ratazanas amantes, que o exploravam e não cuidavam dele, pois quando era preciso tratar-lhe das feridas, após ter sido agredido à vassourada pelos humanos maus, era ela que ia roubar os adesivos e o desinfectante. E a nova "criação divina" ficou. Mais bichinhos foram entrando e ficando. Dona Milocas deixou de derrubar as teias de aranha, pois eram tão lindas...«Quem, senão Deus, poderia ter colocado na sua casa tais obreiras criativas, aquelas rendilheiras, que teciam uns motivos tão lindos, que estavam penduradas por tudo quanto era sítio?», pensava ela.
Um dia, as divisões da casa começaram a ser invadidas por pequeninos "seres divinos" que tinham começado a nascer, pois todas as "divorciadas" entraram para lá "grávidas": breve se tornaram adultos! Saltavam por todo o lado, metiam-se nos armários, destapavam os tachos da comida, a sua benfeitora já não sabia que fazer, tinha ratos e baratas na cama, seus lençóis e cobertores foram despedaçados para a ratazana fazer seu ninho... As aranhas depositavam ovos em qualquer parte, pois estas tinham consigo seus "aranhos", havia produção intensiva... A cumplicidade entre ela e seus protegidos era tão íntima, que acordou algumas vezes com baratinhas-bebés tentando dormir no aconchego das suas orelhas...Vieram as doenças, dona Maricotas sucumbiu no meio de tanta imundície.
Assim que deu o último suspiro, o Diabo entrou-lhe como um raio casa adentro, agarrou nela e atravessou-a sobre os chifres, mandou-a agarrar-se com uma das mãos à seta do seu rabo e a outra mão à barbicha, para não cair, e deu corta aos chispes. Chegou ao Inferno e disse: «Chegámos!» Dona Maricotas ficou muito assustada, pois tinha feito a viagem um tanto atordoada, nem se tinha apercebido claramente de que aquele ser não podia ser um anjo. E gritou: «Eu quero ir para o Céu! Fui uma boa alma na Terra. Morri porque não quis matar nada que mexesse, pois acredito que tudo é de Deus! Leva-ma ao São Pedro, para ele me abrir a porta!» O Diabo respondeu: «Não seja por isso. Vamos lá a ver se tens direito ao Céu. Para te falar com franqueza, quantos mais forem para o Céu, melhor para mim! O Inferno está a ficar superlotado, tenho de fazer obras para o alargar. O que me vale é que a maioria dos meus inquilinos são banqueiros, porque vou ali gastar uma pipa de massa...»
E lá levou dona Milocas a caminho do Céu. Bateu à porta e disse: «Oi, São Pedro!» Este resmungou: «Que é lá isso do "Oi"? Que confiança vem a ser essa?» O Diabo explicou que é a grande moda no facebook e entregou-lhe a sua "encomenda": «Dona Milocas teima que tem direito a residir no Céu. Quer dizeis?» São Pedro respondeu: «Leva-a! É toda tua! Porque o dever de todo aquele que crê em Deus é conservar em bom estado seu corpo, deixá-lo chegar a tal imundície, ela não não viveu em santidade, mas foi uma grandessíssima desmazelada! Primeiro está a saúde e a sobrevivência humana! A falta de higiene, não só prejudica o próprio, como seus vizinhos, pois esta praga, esta sub-raça é escória, deve ser eliminada desde que a sobrevivência humana esteja ameaçada. Leva-a!»
Ontem, um grupo postou a fotografia de uma linda barata, verdadeira, com um letreiro, cuja mensagem era a de que «Tinha o direito de viver, o Deus que te mantém a ti também me mantém a mim» e por aí fora. Era tão amorosa... Senti vontade de tricotar umas botinhas de lã, um gorro e um casaquinho para ela... E foi quando tomei consciência dos crimes que tenho cometido ao longo da minha existência, o último há 3 meses, quando assassinei barbaramente uma voadora que me entrou janela adentro.
Decidi entregar-me às autoridades, para ser julgada e expiar minhas culpas. Não quero passar pela vergonha de que os vizinhos me vejam sair de casa algemada e metida num carro policial...
Ah! Ah! Ah!
Beijocas... "inté"...
Florinda Rosa Isabel
(Texto que escrevi para o Jornal Voz da Minha Terra, Concelho de Mação, e publicado no mês de Fevereiro de 2015.)

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