segunda-feira, 28 de agosto de 2017

FILHO IMAGINÁRO



Cá vou andando de cócoras, pegando em todos os caquitos que vou encontrando, para unir e colar com fio de ouro, para ficar ainda mais valorizada, como a tal peça de porcelana chinesa quebrada que por aqui apareceu como modelo.
Ora o pedacito que acabo de apanhar, pertence a um livro de poesia em que participei e paguei bem caro, do ordenado do meu marido, para inchar o meu ego, ao participar numa Antologia promovida por uma editora espertalhona, nós pagávamos, ela publicava, fazia uma festa de lançamento, apresentava os "ilustres" poetas, entregava-nos aqueles a que tínhamos direito pelo contrato, para as nossas ofertas...
Como ofereci todos, só fiquei com um, tirei algumas cópias da minha poesia para oferecer a quem me pedisse e, agora, encontrei uma cópia e vou passá-la para aqui, para esquecer de vez o aperto de cinto para o alargamento do ego... Kkkkk!
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FILHO IMAGINÁRIO
«Tenho um filho em pensamento:
na cabeça eu fecundei,
não rasguei com sofrimento,
jamais por ele emprenhei.
Tanto o quis proteger,
que nem o deixei nascer.
Meu rebento, meu portento,
verás quanto eu viver.
Encerrado,
filho amado,
no hemisfério cerebral,
estás livre de vitupério
e de tudo que há de mal.
Ninguém te drogará_não drogarás!
Ninguém te roubará_Não roubarás!
Ninguém te espancará_Não espancarás!
Ninguém te prostituirá_Não prostituirás!
Ninguém te matará_Não matarás!
Não correrás nenhum p'rigo,
ter-te-ei sempre comigo.
Serás embrião eterno,
ficarás agradecido
por eu não te ter parido
no Mundo que é um inferno!»
Florinda Rosa Isabel

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