O RIO TEJO...
(Ao criar esta Sátira, minha intenção não foi a de satirizar a situação do Rio, porque, essa, é de muita tristeza... Mas lembrar àqueles que também têm a sua parte de culpa do estado a que o Rio Tejo chegou e não querem admitir isso, continuando sempre a empurrar as culpas todas para o Governo, que não resolve o problema.
Quando a humanidade cai ao mais baixo nível (como se encontra actualmente), fica de tal maneira embrutecida, que os Governos só conseguem resolver com medidas repressivas; depois, são acusados de retirar as liberdades que conquistaram, tal como aconteceu no pós-25 de Abril, em que uns esqueceram que a sua liberdade terminava onde começava a dos outros!
E, agora, grande parte dos seres humanos esquecem que a Natureza também tem os seus direitos: os Rios têm vida própria, têm direitos que lhes foram negados, logo quando os "cortaram" com barragens, retirando-lhes o livre-arbítrio de seguirem o seu curso original sem interrupções. Produção de electricidade? Havia alternativas, era questão de irem remediando-se com menos gastos até que elas aparecessem. Desde há algum tempo começaram a aparecer. Certo?)
As águas do Rio Tejo estão melhoradas, mais nutridas...
Lembro-me de serem umas águas tristes, descoradas, não lhe tinham ligado nada a fornecer-lhes vitaminas.
Agora, sim! Ligaram para ele imensas etares, cujo conteúdo fornece uma gama completa de nutrientes: o detergente da louça, o das lavagem das roupas, enriquecido com branqueadores e amaciadores. Os restos dos vários duches, que "ducham" a toda a hora, para desfazerem a total gama de produtos de higiene com que as pessoas se besuntam diariamente...
Os restos dos agro-químicos também são um bom nutriente que acabam por escorrer para lá, muito sorrateiros, aproveitando as águas da chuva, para se esquivarem, escondidos por baixo dos terrenos cultivados.
Também aquela ideia de darem prioridade aos eucaliptos, devido a estes serem de crescimento mais rápido do que a outras espécies , foi muito bom, agora, com os últimos incêndios, as folhas incendiadas voaram com o vento, reduziram a cinza tudo por onde o fogo passou, a cinza entranhou-se na terra e foi nutrir o pobre Rio Tejo...
As suiniculturas, actualmente, não são nada comparáveis com as míseras pocilgas do antigamente, cujos proprietários, esses sovinas, aproveitavam o cócó dos porcos que criavam para secarem e fazerem adubo para as suas culturas, junto com os bunicos dos burros e as caganetas das cabras e ovelhas. Não guardavam nada para alimentar o pobre Rio, esses sovinas, unhas de fome, gananciosos! A palidez do Rio Tejo não os comovia!
Racionavam a carne, era só para domingos e dias de festa, e pouca, um niquinho a cada membro da família...Agora, sim! Os porcos marcham atrás uns dos outros, para o bandulho dos portugueses! Evidentemente, também mais cocó vitaminado segue para nutrir o Tejo...
Andavam por lá uns pescadores só com uns barquitos a remos, nada comparáveis à moderna motonáutica, que sempre vai deixando alguns resíduos alimentares para as pobres águas desnutridas... E os pescadores levavam uma garrafita de vinho para o almoço e regressavam com ela a casa.
Agora, não! Agora, com mais este grande melhoramento que são as praias fluviais, é uma alegria para o Rio Tejo, a rapazeada bebe as suas coca-colas e as suas cervejolas, e é tão bué atirarem algumas garrafas e latas com restos para o famélico Tejo...
Quando meu Padrinho se reformou, dos Bombeiros, em Lisboa, fomos viver definitivamente para Ortiga. Tinha eu 15 anos. Íamos tomar banhocas para o Rio Tejo, em grupo.Éramos um grupo feminino de atrasadas mentais, babacas, quase vestidas dos pés à cabeça, Não existiam óleos protectores nesse tempo, infelizmente não conseguíamos alimentar o famélico Rio, que lá ficava, com a sua anemia, coitadinho, com as águas continuando pálidas... um horror! Nem sei como ele se aguentou tantos anos, até terem feito várias praias fluviais nele, com plataformas, para os banhistas se estenderem, a trabalhar para o bronze, todos besuntados de óleo que, depois, a natureza se encarrega de transformar em óleo alimentar quando este se mistura com a água. Mais os chichis que vão por lá ficando, são suplementos viamínicos que o pobre Rio muito agradece.
Antigamente, as indústrias produziam menos, pouco alimentavam o Rio com as suas sobras..Mas, actualmente, que o nosso consumismo já ultrapassou o que devia chegar para nós e as duas gerações a seguir, isto é, gastámos, só nas gerações que estão cá actualmente, aquilo que iria chegar para nossos filhos e netos, foi muito bom para o Rio Tejo perder aquele tom de água doentia,sem cor, digamos que ficou bronzeado, com aspecto mais saudável...
E ainda há quem não goste de ver!
Oh, sorte!!!!!
Florinda Rosa Isabel
Sem comentários:
Enviar um comentário