SOFRER EM SILÊNCIO, PERANTE A
MALDADE DA IGNORÂNCIA
Muitas das pessoas que escrevem
publicamente, costumam falar um pouco sobre si, quando pretendem fazer uma analogia com o
assunto que vão apresentar. Eu também irei fazer o mesmo em relação ao meu
artigo de opinião de hoje.
Tive a sorte de ter sido alimentada pelo leite
materno até à idade de dois anos e meio, mas acredito que minha Mãe, enquanto
me trazia no ventre, tivesse sofrido carência de alimentos... Uma menina e um menino já nascidos, nosso Pai, que adquirira uma grave doença
renal ainda em solteiro, impossibilitado de cavar o chão, para que este
produzisse alimentos... Como podia ela
pensar em comer, com duas boquitas famintas a olharem para ela...? Contaram-me
que era a vizinhança que os apoiava. Outros tempos... Tempos de
solidariedade. Meu pai morreu quando eu
tinha dois anos e meio. Meus Padrinhos (minha Madrinha era irmã do meu Pai)
levaram-me para casa deles, em Lisboa. Mas eu não era capaz de engolir nada,
não conseguia comer. Os médicos receitavam vitaminas... Eles choravam «Ai, que a gente deixa morrer
a Nitinha!»_Nome carinhoso que me deram.
Dando um salto no tempo, direi que, com
muita dificuldade, com o esforço de minha Madrinha, em me dar tudo muito
picadinho e ter uma paciência ilimitada, à espera que eu acabasse de mastigar e
engolisse, cheguei a adulta, casei. E, pela vida fora, o mesmo tormento para me
alimentar. Felizmente, tanto meu marido, como seus Pais ou as quatro Irmãs dele, foram sempre compreensivos, diziam-me para comer devagar, havia tempo.
Assim fui vivendo, até que, há aproximadamente vinte anos, quando comecei a ir a excursões com o meu
marido, era maltratada! Sim, por algumas companheiras de viagem, que me faziam observações muito desagradáveis; algumas, passavam por trás de
mim, batiam-me nas costas e perguntavam: «É para hoje ou para amanhã?!».
Um dia, aproveitei o meu marido estar a ser
consultado e queixei-me ao médico. Ele já tinha visto alguns dos meus exames,
onde estava tudo normal. Inscreveu-me no Hospital da Força Aérea e marcou-me lá os exames. Aparelhos sofisticados,
que deram a resposta, que simplifico: «imensos defeitos de fabrico no tracto
digestivo».
Quando
optei por me tornar vegetariana,
melhorei imenso, porque aquilo
que mais me engasgava e recusava "descer", era a carne.
E, agora, vou então explicar o porquê de ter contado tudo isto: É que pretendo
fazer uma analogia entre mim e aqueles que são insultados diariamente nas redes
sociais, por alguns Activistas radicais dos Direitos do Animais, chegando, até,
a desejarem-lhes a morte...
Sem a mínima intenção de me
enaltecer, mas por fazer parte da analogia, direi que minha professora, quando
completei o que é, hoje, conhecido por
Ensino Básico, que frequentei, apenas,
durante três anos e três meses, tendo-me sido atribuída uma distinção
após o exame final, chamou meus Padrinhos e disse-lhes «que me fizessem
continuar nos estudos, que não deixassem perder minha inteligência inutilmente,
que devia ser aproveitada até onde eu conseguisse chegar (o destino não
permitiu...)», mas tendo um cérebro forte, com um tracto digestivo fraquíssimo, tenho capacidades de
discernimento para distinguir o certo do errado. Mas, a outras pessoas,
acontece precisamente o contrário: têm um cérebro fraco, alguns que até conheço
pessoalmente, já estão "proibidos" pelos seus médico de ingerirem
carne, por motivos de saúde, mas seu tracto digestivo funciona em pleno e
pede-lhes grandes churrascadas, de preferência
regadas por bastante vinho, mas cujo cérebro fraco não lhes permite
recusar e perceber que o sabor só
permanece enquanto está na boca, uma vez engolido, nada mais resta,
excepto o sofrimento do agravar da sua
doença. São o oposto de mim, cérebro fraco, mas tracto digestivo forte e... exigente! Ora, também
por motivos alimentares, eu fui muito maltratada... E sinto
os insultos que lhes são dirigidos na minha pele como chicotadas.
Para quê tanto ódio, tanto insulto, contra
os nossos irmãos menos dotados de discernimento? Esse procedimento tira logo a
razão a esses activistas que assim procedem. Não adianta colocarem diariamente
as frases de ilustres do passado, que se manifestavam contra a morte de
animais, quer por maldade ou para consumo,
e pedirem para partilharem muito: Partilham,
mas não conseguem transferir o cérebro desses ilustres para aqueles que
pretendem atingir; assim, nunca poderão pensar igual.
06/10/2016
Florinda Rosa Isabel
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