sexta-feira, 21 de outubro de 2016

ARTIGO DO MÊS OUTUBRO NO JORNAL VOZ DA MINHA TERRA

                  SOFRER EM SILÊNCIO, PERANTE A MALDADE DA IGNORÂNCIA
     Muitas das pessoas que escrevem publicamente, costumam falar um pouco sobre si,  quando pretendem fazer uma analogia com o assunto que vão apresentar. Eu também irei fazer o mesmo em relação ao meu artigo de opinião de hoje.
       Tive a sorte de ter sido alimentada pelo leite materno até à idade de dois anos e meio, mas acredito que minha Mãe, enquanto me trazia no ventre, tivesse sofrido carência de alimentos...  Uma menina e um menino já nascidos,  nosso Pai, que adquirira uma grave doença renal ainda em solteiro, impossibilitado de cavar o chão, para que este produzisse alimentos... Como  podia ela pensar em comer, com duas boquitas  famintas a olharem para ela...? Contaram-me que era a vizinhança que os apoiava. Outros tempos... Tempos de solidariedade.  Meu pai morreu quando eu tinha dois anos e meio. Meus Padrinhos (minha Madrinha era irmã do meu Pai) levaram-me para casa deles, em Lisboa. Mas eu não era capaz de engolir nada, não conseguia comer. Os médicos receitavam vitaminas...   Eles choravam «Ai, que a gente deixa morrer a Nitinha!»_Nome carinhoso que me deram.
      Dando um salto no tempo, direi que, com muita dificuldade, com o esforço de minha Madrinha, em me dar tudo muito picadinho e ter uma paciência ilimitada, à espera que eu acabasse de mastigar e engolisse, cheguei a adulta, casei.  E,  pela vida fora, o mesmo tormento para me alimentar. Felizmente, tanto meu marido, como seus Pais ou as  quatro Irmãs dele, foram sempre compreensivos,  diziam-me para comer devagar, havia tempo.
     Assim fui vivendo, até  que, há aproximadamente vinte anos,  quando comecei a ir a excursões com o meu marido, era maltratada! Sim, por algumas companheiras de viagem, que me  faziam observações muito  desagradáveis; algumas, passavam por trás de mim, batiam-me nas costas e perguntavam: «É para hoje ou para amanhã?!».
    Um dia, aproveitei o meu marido estar a ser consultado e queixei-me ao médico. Ele já tinha visto alguns dos meus exames, onde estava tudo normal. Inscreveu-me no Hospital da Força Aérea e  marcou-me lá os exames. Aparelhos sofisticados, que deram a resposta, que simplifico: «imensos defeitos de fabrico no tracto digestivo».
    Quando  optei por me tornar vegetariana,  melhorei  imenso, porque aquilo que mais me engasgava e recusava "descer",  era a carne.
     E, agora, vou então explicar o porquê  de ter contado tudo isto: É que pretendo fazer uma analogia entre mim e aqueles que são insultados diariamente nas redes sociais, por alguns Activistas radicais dos Direitos do Animais, chegando, até, a desejarem-lhes a morte...
           Sem a mínima intenção de me enaltecer, mas por fazer parte da analogia, direi que minha professora, quando completei  o que é, hoje, conhecido por Ensino Básico, que frequentei, apenas,  durante três anos e três meses, tendo-me sido atribuída uma distinção após o exame final, chamou meus Padrinhos e disse-lhes «que me fizessem continuar nos estudos, que não deixassem perder minha inteligência inutilmente, que devia ser aproveitada até onde eu conseguisse chegar (o destino não permitiu...)», mas tendo um cérebro forte, com um tracto digestivo fraquíssimo, tenho capacidades de discernimento para distinguir o certo do errado. Mas, a outras pessoas, acontece precisamente o contrário: têm um cérebro fraco, alguns que até conheço pessoalmente, já estão "proibidos" pelos seus médico de ingerirem carne, por motivos de saúde, mas seu tracto digestivo funciona em pleno e pede-lhes grandes churrascadas, de preferência  regadas por bastante vinho, mas cujo cérebro fraco não lhes permite recusar e perceber  que o sabor só permanece enquanto está na boca, uma vez engolido, nada mais resta, excepto  o sofrimento do agravar da sua doença. São o oposto de mim, cérebro fraco, mas tracto  digestivo forte e... exigente! Ora, também por motivos alimentares, eu fui muito maltratada... E  sinto  os insultos que lhes são dirigidos na minha pele como chicotadas.
     Para quê tanto ódio, tanto insulto, contra os nossos irmãos menos dotados de discernimento? Esse procedimento tira logo a razão a esses activistas que assim procedem. Não adianta colocarem diariamente as frases de ilustres do passado, que se manifestavam contra a morte de animais, quer por maldade ou  para consumo, e pedirem para partilharem muito:  Partilham, mas não conseguem transferir o cérebro desses ilustres para aqueles que pretendem atingir; assim, nunca poderão pensar igual.

06/10/2016
Florinda Rosa Isabel





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