Pétalas - Reflexões Espirituais - 8 Março
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Caros Amigos,
Como informámos a semana passada, terminada a partilha das últimas Mensagens recebidas por Tatyana Mickushina que uma vez mais nos foram cedidas gentilmente pelo Dr. José Caldas, voltamos com a partilha do texto hoje selecionado aleatoriamente, e o livro selecionado foi «PÉTALAS - Reflexões Espirituais», de Maria, inserido na Colecção "Missão Lusa".
Parte do VII Capítulo - O GRAAL DA ÍNDIA - páginas 51 a 58:
Quanto aos Yoga Sūtras, Patañjali compilou um sistema prático e teórico com uma estrutura muito completa, onde a ferramenta essencial, para se obter a libertação é a prática da Meditação. Ele não só aponta o caminho a percorrer, mas como o percorrer. Acaba por ser a cartilha da auto-realização. Este sistema de Yoga mais conhecido como Rāja Yoga é muito apreciado no ocidente, sobretudo, como manual de āsanas (posturas) e de prāṇayāma (respiração), contudo, o Rāja Yoga é muito mais do que isso, pois o fundamental do seu ensinamento é a prática da Meditação e o auto-conhecimento e sem estes requisitos básicos nada se alcança, mesmo que se pratiquem āsanas e prāṇayāma a vida inteira. Aquilo que para o ocidente se tornou mais acessível de integrar, de toda a grandeza das filosofias da Índia foi, de facto, o que vulgarmente conhecemos como Yoga, pois os ocidentais estão pouco familiarizados com a Meditação, e concebem esta no sentido da reflexão, escapando-lhe o verdadeiro sentido quanto ao objectivo espiritual mais profundo, valorizando apenas as práticas de aquietação da mente. Mas, a par da prática que abrange os āsanas, o prāṇayāma e a Meditação, segue-se a filosofia ou parte teórica que leva à investigação interna e externa, pela devoção à leitura de textos sagrados, e pela aspiração ao conhecimento. Assim, a prática dos āsanas ou posturas, é considerada por muitos como uma ginástica que dispõe bem, descuidando-se o estudo da filosofia subjacente ao sistema, oferecendo esta uma base para usar a inteligência, condição essencial, para se percorrer a via espiritual da libertação de forma absolutamente consciente. Os āsanas e o prāṇayāma representam apenas os aspectos preliminares de preparação para entrar depois na prática da Meditação. Após as posturas, que representam basicamente uma limpeza energética dos corpos físicos e etéricos e, descartadas as energias mais densas, fica então uma leveza psico-física, que permite aquietar a mente para a fase seguinte que é a Meditação.
Sūtra 45 - «Conforme for desenvolvendo o seu sentido espiritual, sentirá cada vez mais o aspecto sem forma e infinito de Deus (Īśvara), até atingir o samādhi (União Suprema)». 47 - «Assim, a postura está perfeita quando o esforço é relaxado e a mente é absorvida pelo Infinito». Yoga Sūtras de Patanjali - Sādhana Pāda
Comparando a Aṣṭāvakra Gītā com os Yoga Sūtras, parece haver contradições, pois no primeiro, já não interessam as práticas, seja do controlo da mente pela Meditação, seja pela sublimação sexual através de austeridades, seja pela inibição da ambição de desejar alguma coisa, até a libertação, onde apenas o importante é o reconhecimento em si, da pura consciência, submersa na paz profunda. Contudo, este estado de pura consciência, foi atingido pelo desapego, resultante da realização espiritual num longo percurso, geralmente começado em vidas anteriores, alcançando por fim a equanimidade. Enquanto noutro, nos Yoga Sūtras, começa pela explanação do caminho que conduz a essa realização ou kaivalya, e como alcançá-la. As práticas, aliadas à vontade e determinação no atingimento do objectivo que é o samādhi ou a pura consciência, são o meio que leva a adquirir o tesouro: a libertação dos condicionalismos da matéria, enquanto num corpo físico. Kevalin é aquele que atinge o estado de kaivalya, isolamento, no sentido de superamento humano, liberto dos sentidos e das amarras do desejo e da posse, vivendo na esfera da iluminação ou pura consciência, pois já nada deseja do mundo, contudo, para chegar a esta consciência de Ser, percorreu na vida presente ou nas anteriores, os caminhos que lhe permitiram usar as formas mais adequadas, quer tenham sido pelas austeridades (renúncia), pela devoção (orações), pela concentração (Meditação), enfim, todos os passos conducentes ao mesmo fim: o encontro consigo próprio e com Deus! A iluminação que se alcança de forma gradual, não é mais do que o encontro com Deus. As práticas, as austeridades, a devoção, foram necessárias à purificação e nessa pureza, Deus se vai revelando… (Embora a maior parte dos comentadores ocidentais destas obras, principalmente de Aṣṭāvakra Gītā e dos Yoga Sūtras de Patañjali não valorizem ou não discernem essa realização última de Deus, que está implícita nos ensinamentos). Cientificamente, diria: o cérebro purificado pela mente, através de puros pensamentos ou do correcto viver, harmoniza a mente, qualificando-a e permite novas e renovadas ligações neuronais, sobressaindo então, maior clareza, iluminando a mente de Inteligência e, nesta condição, se conhece ou entra na Mente Divina. Na realidade, o cérebro físico do ser humano está preparado ou tem como finalidade chegar a estabelecer uma corrente neuronal, que permita um dia fazer as ligações necessárias onde se processa então, o estado de felicidade interna ou samādhi e, como consequência, o conhecimento de Deus, inteligentemente. Não é privilégio de alguns, mas é a condição essencial de todos os seres, enquanto no corpo físico, de fazer a evolução do próprio cérebro e de realizar a plenitude espiritual e, se já tantos ao longo da história humana o conseguiram é razão mais que evidente que todos o farão. A integração em Deus, na Mente Superior de Inteligência - Consciência ou ainda Mente Divina (divina porque a maior parte dos seres humanos ainda não a alcançou), acontece por estados graduais ou experiências espirituais de samādhi, que podem ser infinitas, pois enquanto num corpo físico, há sempre algo a realizar e, acaba consumada numa realização consciente, quando se descobre que se É ou melhor, já não se É, apenas se é Ele. É nisto que consiste a iluminação e em qualquer destes sistemas mencionados se encontra a inspiração para a sua realização. Enganam-se pois os que pensam encontrar a iluminação, sem o uso da inteligência e sem Deus. O esforço da busca, a prática da Meditação, a disciplina e a vontade consciente, são requisitos para um longo percurso, onde o mérito está, exactamente, no esforço individual de alcançar a mais alta consciência, que é o encontro inteligente com Deus, caso contrário, se não fosse por uma vontade inteligente e pessoal, como haveria em cada um a certeza de Deus? Em Aṣṭāvakra Gītā, o Eu é pura inteligência, e sendo acessível a todos esta suprema realização, será sempre difícil expressar esta beatitude, no sentido de transmitir essa felicidade a quem ainda não a alcançou; daí as frases enigmáticas porém, pode captar-se o alento da aspiração e por intuição, saber que se pode alcançar. Ao lerem-se os aforismos, de imediato nasce internamente a aspiração de um dia alcançar os estados doces e serenos cantados pelo sábio Aṣṭāvakra. De aparente fervor teísta, obviamente, exalta uma posição do Eu ou Ātman como um princípio transcendente, onde o fenómeno da forma ou nome desaparece para dar lugar a uma natural, eterna e luminosa Pura Inteligência. Enquanto na Bhagavad Gītā há uma grande conciliação entre Jñāna Yoga e o Karma Yoga; o Yoga do Conhecimento e o Yoga da Acção, dedicada ao Divino, para Aṣṭāvakra isto já não é relevante, visto já estar absorvido em plena Consciência, absolutamente impessoal, longe da dualidade. Antes de mais a grandeza da Aṣṭāvakra Gītā é a sabedoria da emancipação do Eu e a completa indiferença aos pares de opostos os quais derivam da ignorância. Não há felicidade ou miséria, existência ou não-existência, nascimento ou morte.
Na Bhagavad Gītā, no Canto III “Acção e Determinismo”, Aforismo 8, encontra-se: «Pratica tu todas as acções que se te impõem, porque a acção, qualquer que ela seja, vale mais que a inacção; pois as funções orgânicas elementares até são impossíveis na inacção». Este aforismo é, sem dúvida, ligado ao Karma Yoga ou o Yoga da Acção, destinado àqueles que ainda vivem de forma agitada, predominando neles as características de raja, um dos três guṇas ou qualidades da matéria, bem longe da aquietação do sábio Aṣṭāvakra. 9 - «Toda a acção não inspirada pelo ideal alto, sujeita o homem ao seu determinismo; por isso, Oh Arjuna, pratica tu a acção, renunciando aos seus frutos, como sendo o sacrifício». Este é o Yoga da Devoção, a corrente dualista, tão cantada ao longo dos séculos pelo povo da Índia, personificado por grandes mestres que se imortalizaram pela via do amor a Deus, linha Bhakti, tal a de Rāmanūja ou Rāmakrishna. Porém, mais adiante 17 - «Mas, ao homem que funda as suas delícias no seu Eu, satisfeito com o seu eu e imerso no Eu, não existe acção alguma que tenha de praticar». Nítida influência Advaita Vedānta, o sistema não-dualista, muito próximo da identificação com Aṣṭāvakra ou com Śaṅkara. Também no Capítulo VI – “Prática do Yoga” 10 - «É necessário ao Yogī praticar continuamente a sua união com o Eu, vivendo em retiro e só, banindo da sua mente todo o desejo e ideia de posse e evitando as emoções que o possam abalar». Corrente do Conhecimento ou Jñāna Yoga também muito próximo da doutrina Sāṃkhya, na busca pela identificação de Puruṣa, libertando-o de Prakṛtī, a matéria. 26 - «Todas as vezes que a atenção fuja ou escape do alvo, é preciso dominá-la e trazê-la à submissão do Eu». Este aforismo é de forte influência do Yoga de Patañjali, versando o mesmo objectivo do Sūtra 33, mais adiante. Em Aṣṭāvakra Gītā - 1º Capítulo 6 - «O dever e o vício, a felicidade e a dor são mentais e não teus, oh omnipresente! Não és quem age nem quem goza as acções. Em verdade, és sempre livre». Este aforismo contrasta com o aforismo 9, da Bhagavad Gītā. 13 - «Abandona os estados de ânimo externos e internos e a ilusão de que eu sou é uma manifestação reflectora do Eu. Reconhece-te como Espírito, consciência desperta, inalterável e não-dual». Este aforismo, podemos comparar com o aforismo 10, do “Canto VI” da Bhagavad Gītā, onde o esforço pessoal ultrapassa a identificação não-dual de absoluto desapego.
Nos Yoga Sūtras de Patañjali, - “Sādhana- Pāda”: Sūtra 28 - «Da prática dos exercícios que compõem o Yoga, da destruição da impureza, brota a iluminação espiritual, que evolui para o percebimento da Realidade». Contrasta com o aforismo de Aṣṭāvakra Gītā, onde são descartadas todas as práticas pela identificação do Eu ou Ātman, assim como o verso seguinte. 32 - «Pureza, contentamento, austeridade, auto-estudo e auto-entrega constituem as observâncias». 33 - «Quando a mente é perturbada por pensamentos impróprios, a constante ponderação sobre os opostos (é o remédio)». Outro motivo de comparação com o aforismo 6, de Aṣṭāvakra Gītā, trazendo à consciência a ilusória subjugação dos opostos, num confronto do Ser a si mesmo.
O que tentamos mostrar nestas comparações é que não existem contradições entre estes ensinamentos, mas que eles reflectem apenas, os vários estados de Consciência na escalada da realização humana. A comparação entre eles denuncia só as várias etapas a percorrer e os avanços alcançados na expansão de Consciência, de quem, de facto, realiza a sua própria senda. Nem tão pouco são paradoxos, nomeadamente na Aṣṭāvakra Gītā; são entendimentos da realidade em níveis superiores de consciência daquele que ultrapassou, não só, os pares de opostos, como a dimensão de inteligência terrena. Aos olhos do não-realizado, na verdade, parece haver paradoxos, pelo facto de ainda não se ter atingido tal compreensão e vivência. Razão porque este trabalho tenta delinear as diferenças entre as várias correntes e, dar a compreensão àqueles a quem elas se destinam. Aquele que optou pelo sistema de Patañjali e se é honesto consigo próprio, faz naturalmente progressos no seu caminhar e, em determinado passo, começa a aperceber-se das mudanças operadas na consciência e na mente (por vezes já se alterou ou expandiu a consciência, mas a mente ainda não reconheceu) e, consequentemente, na forma de viver. São descartados muitos conceitos e ganham-se novos valores e atitudes, sobretudo, na indiferença ou no desapego que se vai realizando em relação ao mundo e ao supérfluo e pode então, fazer-se a comparação entre o antigo modo de viver e o actual. Isto constitui um saber pessoal e mostra a cada um, a si mesmo, a sua própria evolução no caminho espiritual. Quando olha para o passado, já nem se reconhece e, naturalmente, todos os ensinamentos que foram próprios e necessários do princípio do caminho, foram a par e passo descartados. De facto, a grande riqueza que se encontra nas filosofias da Índia é a diversidade, onde em qualquer sistema ou doutrina há um ponto comum a todas e, qualquer um, pode encontrar o auxílio de que necessita no momento, conforme o seu estado de evolução ou despertar de consciência.
Até breve!
08 de Março, 2016
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